Quem puser a capa deste novo disco de Pat Metheny
ao espelho conseguirá ler imediatamente o seu título – não será lá muito
tranquilizador, mas pelo menos não é nenhum “os objetos no retrovisor estão mais
perto do que parecem”. Aqui, com letra de Alison Riley, e na voz de Meshell
Ndegeocello, ‘From This Place’ é, também, uma belíssima canção (no álbum, a única
propriamente dita) – mas, por oposição ao que havia feito em 1989, por alturas
de “Letter From Home’, e após a vitória de George H. W. Bush nas presidenciais,
através de temas como ‘Spring Ain’t Here’, agora, Pat insiste em explicar que o
tema nasceu na madrugada de 9 de novembro de 2016, com a eleição de Trump,
quando o seu país “revelou ao mundo uma vergonhosa parte de si que tinha nos
últimos tempos conseguido ocultar”. Mas não é só aí que “From This Place” remete
para o passado do seu autor: a algazarra de ‘America Undefined’ traz à memória
a exuberante língua de vozes soltas que se ouvia em ‘As Falls Wichita, So Falls
Wichita Falls’ (1981); as notas trémulas da guitarra em imitação do sitar em
‘Same River’, seguidas de um solo em sintetizador movido a oxigénio líquido,
levam a recordar ‘The Longest Summer’, de “Secret Story” (1992); e um veículo
para harmónica e violão como ‘The Past in Us’ lembra o que, no mesmo registo, em
‘Always and Forever’, Pat fazia com Thielemans. A evocação não é gratuita: tal
como “Secret Story”, e, ao que tudo indica, adotando o modelo de Don Sebesky,
orquestrador que se distinguiu ao serviço da A&M e CTI, “From This Place” recorre
a secções de sopros e cordas. Dir-se-ia uma forma do guitarrista dignificar, e
fazer mais sua, aquela série final de discos (com arranjos de Sebesky) da sua
maior influência, Wes Montgomery, cujos títulos (“A Day in the Life”, “Down
Here on the Ground” – com foto de capa tirada em Portugal – e “Road Song”)
tinham já a ver com o que o Pat Metheny Group viria a patentear. Isto é Metheny
a voltar a si e aos seus exatamente quando mais precisa e a não ter o mínimo
pudor em demonstrá-lo. Com o desaparecimento de Lyle Mays há um mês, os tempos
não estão para outra coisa.
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