7 de março de 2020

Pat Metheny “From This Place” (Nonesuch, 2020)

Quem puser a capa deste novo disco de Pat Metheny ao espelho conseguirá ler imediatamente o seu título – não será lá muito tranquilizador, mas pelo menos não é nenhum “os objetos no retrovisor estão mais perto do que parecem”. Aqui, com letra de Alison Riley, e na voz de Meshell Ndegeocello, ‘From This Place’ é, também, uma belíssima canção (no álbum, a única propriamente dita) – mas, por oposição ao que havia feito em 1989, por alturas de “Letter From Home’, e após a vitória de George H. W. Bush nas presidenciais, através de temas como ‘Spring Ain’t Here’, agora, Pat insiste em explicar que o tema nasceu na madrugada de 9 de novembro de 2016, com a eleição de Trump, quando o seu país “revelou ao mundo uma vergonhosa parte de si que tinha nos últimos tempos conseguido ocultar”. Mas não é só aí que “From This Place” remete para o passado do seu autor: a algazarra de ‘America Undefined’ traz à memória a exuberante língua de vozes soltas que se ouvia em ‘As Falls Wichita, So Falls Wichita Falls’ (1981); as notas trémulas da guitarra em imitação do sitar em ‘Same River’, seguidas de um solo em sintetizador movido a oxigénio líquido, levam a recordar ‘The Longest Summer’, de “Secret Story” (1992); e um veículo para harmónica e violão como ‘The Past in Us’ lembra o que, no mesmo registo, em ‘Always and Forever’, Pat fazia com Thielemans. A evocação não é gratuita: tal como “Secret Story”, e, ao que tudo indica, adotando o modelo de Don Sebesky, orquestrador que se distinguiu ao serviço da A&M e CTI, “From This Place” recorre a secções de sopros e cordas. Dir-se-ia uma forma do guitarrista dignificar, e fazer mais sua, aquela série final de discos (com arranjos de Sebesky) da sua maior influência, Wes Montgomery, cujos títulos (“A Day in the Life”, “Down Here on the Ground” – com foto de capa tirada em Portugal – e “Road Song”) tinham já a ver com o que o Pat Metheny Group viria a patentear. Isto é Metheny a voltar a si e aos seus exatamente quando mais precisa e a não ter o mínimo pudor em demonstrá-lo. Com o desaparecimento de Lyle Mays há um mês, os tempos não estão para outra coisa.

Sem comentários:

Enviar um comentário