De modo a angariar fundos na luta contra a covid-19,
diz Lionel Richie que urge tornar a gravar ‘We Are the World’. Bom, nem que seja
pelo interesse puramente didático da coisa, faz mais sentido pôr artistas do
mundo inteiro a cantar ‘Amor Secreto’, de Wando, no FaceTime: “Hoje vou ficar
em casa/ Vou tirar a roupa/ Vou te amar em pensamento/ Vou ter febre louca// Mesmo
te querendo muito/ Não vou te encontrar/ Vou te amar em fantasia/ Pra não
machucar.” De forma mais ou menos eufemística, no YouTube, Twitter, Instagram
ou Facebook, é o que tem virtualmente demonstrado gente como Joyce DiDonato,
Daniel Hope, Igor Levit, Yo-Yo Ma, Gautier Capuçon e Alisa Weilerstein. Nessa
perspetiva, o ponto alto da agenda semanal virá por cortesia de Marc-André
Hamelin (na foto), um pianista que se revela incapaz de ceder ao pânico mesmo quanto tem
em mãos as mais complicadas partituras e que, quarta-feira, às 17h30, diretamente da sua sala de estar, propõe um programa que passa por C. P. E. Bach, Enescu,
Liszt e Scriabin e que arrisca a transcendência no “Noturno Nº 6” de Fauré (que
marcou o regresso do compositor ao piano após um interregno de seis anos e que
se ouve como se alguém tivesse decidido resumir em dez minutos a dor e a
alegria entretanto vividas) e numa seleção do segundo livro de “Prelúdios” de
Debussy, que inclui “La terrasse des audiences du clair de lune”. Quem também se
porá a evocar a lua, embora tocando à uma da tarde, amanhã, na sua página de Facebook, é o notável pianista holandês Dante Boon, que inicia o live com a meditativa “Early Night”, de Michael
Vincent Waller. E à cata de luz, por alturas da “Sinfonia da Ressurreição”, andava
Mahler, um prodigioso praticante de isolamento social – quinta, às 19h30, a London Symphony Orchestra emitirá no seu canal de YouTube uma recente interpretação da
obra dirigida por Semyon Bychkov. “Não foi em vão que sofreste”, ouvir-se-á. Quem
quiser que acredite.
Sem comentários:
Enviar um comentário