Porque já se deita pelos olhos (quer dizer, entra) esta
coisa das enfermidades infecciosas e contagiosas, presume-se, eis que a Semperoper
de Dresden disponibiliza no seu site
(até às dez da noite de amanhã) “Cavalleria rusticana” e “Pagliacci”, óperas em
que o homem morre às mãos do homem, em vez de se sujeitar à ação de bacilos,
como em “La traviata” ou “La bohème” – Philipp Stölzl encena, Christian
Thielemann dirige e Jonas Kaufmann é Turiddu e Canio. Aí, era o verismo; no
século XX, o vernáculo: segunda-feira, às sete da tarde, no canal de YouTube da London Symphony Orchestra, numa gravação de 2018, Simon Rattle apresenta um
programa fascinado pela transposição de viroses idiomáticas, que inclui
“Prelude, Fugue and Riffs”, de Bernstein, “Quinze Canções Populares Húngaras”,
de Bartók, “Harnasie”, de Szymanowski, ou “Nazareno”, de Osvaldo Golijov (com
as irmãs Labèque como solistas). Agora, mais ainda do que na língua, quem
procurou contrariar tudo aquilo que se cristalizava na prática, levando plateias
a refletir sobre o próprio ato de audição, foi o compositor Tom Johnson, cuja
magnética “An Hour for Piano” será interpretada à uma da tarde, hoje, por Dante
Boon, com transmissão ao vivo na página de Facebook do pianista. Isto porque “Quem
sair de casa/ Hoje dança”, como figurativamente avisava Luiz Melodia, em ‘Hoje
e Amanhã Não Saio de Casa’ (“É tão emocional lá na rua/ O couro tá comendo nas
ruas/ As luzes se apagaram nas ruas”, ouvia-se). Ninguém diz que é fácil
(aliás, numa “Science” de julho de 2014, um estudo sugeria que, sujeito a
estarem fechadas num quarto, sem estímulos exteriores, cobaias humanas
preferiam autoinfligir-se com choques elétricos do que suportar sozinhas os
seus pensamentos), mas, segunda-feira, às 19h30, no site do Schinkel Pavillon, quando Severin von Eckardstein (na foto) tocar a “Sonata para Piano Nº 8”,
de Prokofiev, a “Elegia”, Op. 59, Nº 2, de Medtner, e o “Noturno”, Op. 27, Nº
2, de Chopin, não se queixem de falta de ajuda.
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