Em notas de apresentação, Draklser evoca a Eslovénia
rural da sua infância, um espaço em que tudo acontecia tão lentamente, presume-se,
que cada um dos seus elementos constituintes parecia estar a posar para um
retrato a óleo: “Bosques, colinas, água corrente, lavradores a amanhar a terra,
sinos a tocar, cães a ladrar, deambulações noturnas pela vila”, cores primárias
na composição de um cenário profundamente arquetípico que, mais que a essência
de um lugar, se diria representar um estado de espírito – o de quem equipara o
campo a uma espécie de paraíso perdido. Terá sido o que inicialmente a atraiu na
poesia de Robert Frost (1874-1963) – outro, como Kaja, que bem soube o que era
(sobre)viver numa zona “de baixa densidade populacional, não excessivamente
cultivada, nem inteiramente selvagem”, a fim de explicar a “complexidade da
condição humana” em versos de “intrínseca musicalidade”, diz ela. Escuta-se ‘Never
Again Would Bird’s Song Be The Same’, de facto, e lá somos transportados para aquele
primevo palco em que Deus colocou Adão e Eva, com Draksler (em idiofone
dedilhado e piano), Laura Polence (voz), Björk Níelsdóttir (voz), Ada Rave
(sopros), Ab Baars (sopros), George Dumitriu (cordas), Lennart Heyndels (contrabaixo)
e Onno Govaert (percussão) a organizar a mais teatral reprodução de zumbidos e
zunidos, gritos e grunhidos, roncos e rugidos, berros e balidos num disco de
jazz desde que François Tusques gravou “Le jardin des délices” (1992). Noutro
contexto, pelo óbvio mecanismo de repressão que lhe está subjacente, tamanho
condicionante corromperia a ação de qualquer um, mas esta música é tão livre e
solta que se traduz, antes, por um desinibido ato de provocação – com as suas
canções de câmara, cabaré ou campesinato, chamem-lhe o que quiserem, até quem se
pusesse a narrar a ascensão e queda do octeto, concentrando-se nas duas décadas
que medeiam ‘Schizophrenic Scherzo’, do Dave Brubeck Octet, e “Machine Gun”, do
Peter Brötzmann Octet, teria dificuldade em prender esta formação ao chão.
Talvez por isso tenha ido Kaja ter ao autor de “O Caminho Não Percorrido”.
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