27 de junho de 2020

John Scofield, Bill Stewart, Steve Swallow “Swallow Tales” (ECM, 2020)


Na sua antologia de poesia grega clássica, Yourcenar chama-lhe “Chanson de Rhodes”, mas no Egeu é conhecida como “Canção da Andorinha” e acaba assim: “Abre, abre a porta à andorinha/ Não somos velhacos, somos meninos!” Tal a diabrura destas pautas, bem podia ser o mote desta homenagem de Scofield a um velho mentor: Steve Swallow – e só não lhe deu o título de “Swallow Songs”, presume-se, porque a Bohuslän Big Band se lhe antecipou, em 2008. Seja como for, o ponto é esse: associar esta música ao despertar da primavera (em inglês – relembre-se – swallow traduz-se por andorinha), coisa que não se via esta gente a fazer (Bill Stewart que nos perdoe) desde que em “This Meets That” (EmArcy, 2007) teve a infeliz ideia de tocar ‘House of the Rising Sun’ e ‘(I Can’t Get No) Satisfaction’. Mas nada disso importa muito, quando se faz música assim – aliás, tivéssemos em mãos um disco póstumo, já nos estava a ver a fazer coro com Carlos do Carmo e a cantar: “Por morrer uma andorinha/ Não acaba a primavera”. Além de que é Scofield quem traz o assunto à baila: “Conheço grande parte destas canções há uns bons 40 anos,” diz. Em notas de apresentação, refere-se ao tempo em que estudava em Berklee, quando o “Real Book” (com standards e peças de Swallow, Paul Bley, Chick Corea, Pat Metheny ou Steve Kuhn) andava de mão em mão entre os alunos (ou de fotocopiadora em fotocopiadora, para ser exato), “nerds do jazz que tentavam aprender a todo o custo”, recorda. Trata-se de uma maneira de ver as coisas – outra, não menos fundamental, e inúmeras vezes comprovada no passado, é que, neste contexto, o mentor não possui menor fascínio e admiração pelas capacidades expressivas do mentorado. Num depoimento incluído em materiais promocionais da ECM, eles sintetizam-no de modo perfeitamente osmótico: “Por vezes, quando tocamos em conjunto, parece que temos em mãos um só instrumento”, uma guitarra aumentada. Em versões definitivas de ‘Falling Grace’, ‘Portsmouth Figurations’, ‘Eiderdown’ ou ‘Hullo, Bolinas’, anteriormente imortalizados por Gary Burton ou Bill Evans, é desta que, como a andorinha de “O Príncipe Feliz”, de Oscar Wilde, Swallow vai parar ao paraíso.

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