Na sua antologia de poesia grega clássica,
Yourcenar chama-lhe “Chanson de Rhodes”, mas no Egeu é conhecida como “Canção
da Andorinha” e acaba assim: “Abre, abre a porta à andorinha/ Não somos velhacos,
somos meninos!” Tal a diabrura destas pautas, bem podia ser o mote desta
homenagem de Scofield a um velho mentor: Steve Swallow – e só não lhe deu o
título de “Swallow Songs”, presume-se, porque a Bohuslän Big Band se lhe antecipou,
em 2008. Seja como for, o ponto é esse: associar esta música ao despertar da primavera
(em inglês – relembre-se – swallow traduz-se
por andorinha), coisa que não se via esta gente a fazer (Bill Stewart que nos
perdoe) desde que em “This Meets That” (EmArcy, 2007) teve a infeliz ideia de tocar
‘House of the Rising Sun’ e ‘(I Can’t Get No) Satisfaction’. Mas nada disso
importa muito, quando se faz música assim – aliás, tivéssemos em mãos um disco
póstumo, já nos estava a ver a fazer coro com Carlos do Carmo e a cantar: “Por
morrer uma andorinha/ Não acaba a primavera”. Além de que é Scofield quem traz
o assunto à baila: “Conheço grande parte destas canções há uns bons 40 anos,” diz.
Em notas de apresentação, refere-se ao tempo em que estudava em Berklee, quando
o “Real Book” (com standards e peças de
Swallow, Paul Bley, Chick Corea, Pat Metheny ou Steve Kuhn) andava de mão em
mão entre os alunos (ou de fotocopiadora em fotocopiadora, para ser exato), “nerds do jazz que tentavam aprender a
todo o custo”, recorda. Trata-se de uma maneira de ver as coisas – outra, não
menos fundamental, e inúmeras vezes comprovada no passado, é que, neste
contexto, o mentor não possui menor fascínio e admiração pelas capacidades
expressivas do mentorado. Num depoimento incluído em materiais promocionais da
ECM, eles sintetizam-no de modo perfeitamente osmótico: “Por vezes, quando
tocamos em conjunto, parece que temos em mãos um só instrumento”, uma guitarra
aumentada. Em versões definitivas de ‘Falling Grace’, ‘Portsmouth Figurations’,
‘Eiderdown’ ou ‘Hullo, Bolinas’, anteriormente imortalizados por Gary Burton ou
Bill Evans, é desta que, como a andorinha de “O Príncipe Feliz”, de Oscar
Wilde, Swallow vai parar ao paraíso.
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