No afrobeat,
a melodia parecia andar sempre um bom par de passos atrás ou à frente da letra –
pior, em termos rítmicos é como estar parado, em pé, no meio de um
concorrido cruzamento, e, contrariando toda a lógica, ver o tráfego a entrecortar-se
a diferentes velocidades em simultâneo e em todos os sentidos à nossa volta. Metáfora
apta a descrever a sua adoção pelos Talking Heads, em “Remain in Light” – que é
o mesmo que dizer que, no fundo, em meados de 70, estar na baixa de Nova Iorque
ou na de Lagos não era assim tão diferente quanto isso. Ilustram-no uma série
de reedições na última década, a começar pelas dos Founders 15, Eji Oyewole e
Lijadu Sisters, e é exatamente uma das coisas em que se pensa ao escutar estes
títulos da Tabansi Studio Band e de Sidiku Buari.
Todos, sem exceção, e
independentemente das respetivas origens (a banda de apoio da editora Tabansi,
alicerçada na Martins Brothers Dance Band, na Nigéria; Buari, no Gana), a fazer
o mesmo: usar música africana para tocar disco
sound, como devia de ser, em vez de usar disco sound para fingir tocar música africana, como era habitual nos
EUA. De certa forma, sem prejuízo da sua complexidade, trata-se de remeter uma
fórmula de sofisticadíssima aparência para o universo da arte primitiva, no
qual a música se produzia sem eletricidade mas já com recurso à pista de dança.
Os primeiros numa extática tangente com práticas ibo ou haúça (enquanto Fela
Kuti se socorria sobretudo da tradição ioruba), que se julga fonograficamente
inédita, o segundo a extrair o sumo todo ao highlife,
que mais rápido que um morcego a infetar um pangolim pôs do lado de lá do Atlântico a contagiar quem o ouviu.
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