6 de junho de 2020

Tabansi Studio Band “Wakar Alhazai Kano/Mus’en Sofoa” & Sidiku Buari “Revolution” (BBE, re. 2020)



No afrobeat, a melodia parecia andar sempre um bom par de passos atrás ou à frente da letra – pior, em termos rítmicos é como estar parado, em pé, no meio de um concorrido cruzamento, e, contrariando toda a lógica, ver o tráfego a entrecortar-se a diferentes velocidades em simultâneo e em todos os sentidos à nossa volta. Metáfora apta a descrever a sua adoção pelos Talking Heads, em “Remain in Light” – que é o mesmo que dizer que, no fundo, em meados de 70, estar na baixa de Nova Iorque ou na de Lagos não era assim tão diferente quanto isso. Ilustram-no uma série de reedições na última década, a começar pelas dos Founders 15, Eji Oyewole e Lijadu Sisters, e é exatamente uma das coisas em que se pensa ao escutar estes títulos da Tabansi Studio Band e de Sidiku Buari. 
Todos, sem exceção, e independentemente das respetivas origens (a banda de apoio da editora Tabansi, alicerçada na Martins Brothers Dance Band, na Nigéria; Buari, no Gana), a fazer o mesmo: usar música africana para tocar disco sound, como devia de ser, em vez de usar disco sound para fingir tocar música africana, como era habitual nos EUA. De certa forma, sem prejuízo da sua complexidade, trata-se de remeter uma fórmula de sofisticadíssima aparência para o universo da arte primitiva, no qual a música se produzia sem eletricidade mas já com recurso à pista de dança. Os primeiros numa extática tangente com práticas ibo ou haúça (enquanto Fela Kuti se socorria sobretudo da tradição ioruba), que se julga fonograficamente inédita, o segundo a extrair o sumo todo ao highlife, que mais rápido que um morcego a infetar um pangolim pôs do lado de lá do Atlântico a contagiar quem o ouviu.

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