18 de julho de 2020

Nkem Njoku & Ozzobia Brothers “Ozobia Special” (BBE, re. 2020)

Há uns meses, à “Ransom Note”, John Armstrong explicava o segredo do sucesso de Chief Tabansi, alguém que à frente de um pequeno selo independente havia indelevelmente marcado a indústria fonográfica nigeriana dos anos 70 e 80: “Ele tinha o seu próprio estúdio de gravação, a sua própria empresa de fabrico e duplicação de vinis e o seu próprio canal de distribuição – uma carrinha, através da qual, desde Onitsha, percorria o país de lés a lés,” de Lagos, onde vendia discos de fuji aos iorubas, à fronteira com o Níger, por exemplo, onde vendia música árabe aos haúças. De facto, não seria para qualquer um. Mas o que o DJ e produtor britânico responsável pela presente campanha de reedições da Tabansi, na BBE, desconhecerá, quiçá, é que o fundador da editora não tinha a vida, assim, tão complicada quanto isso: pelo menos a partir de 1979, quando Shehu Shagari interditou a importação de discos (uma medida protecionista que levou a que no ano seguinte se viessem a produzir 12 milhões de singles e LP na Nigéria, metade dos quais dedicados a estilos nacionais, conforme explica John Collins, em “Musicmakers of West Africa”). O que terá sido o empurrão que faltava para que a Tabansi promovesse uma ressurreição cultural: a do highlife ibo, cujos expoentes (Stephen Osita Osadebe, Celestine Ukwu, Nico Mbarga, Oriental Brothers) estavam nas mãos de multinacionais como a Philips e a Decca, prestes a ser nacionalizadas ou em contrapartida a ter de abandonar o barco. E, com Jake Sollo à frente das operações (ele, que, dez anos antes, em plena Guerra do Biafra, animava as tropas secessionistas com os Funkees, antes de viajar para uma Inglaterra em que o esperava de braços abertos John Peel), tratar de atualizar o mais leve e lúdico no género para esse período hedonista em que nas discotecas os temas mais pedidos eram o ‘Boogie Oogie Oogie’, de A Taste of Honey, e o ‘Boogie Wonderland’, dos Earth, Wind & Fire. Aqui, com o mesmo Nkem Njoku com que viria a gravar “Man No Good” (1986), está plasmada a esperança com que Sollo e uma minoria tão perseguida reagiam aos avanços democráticos de um país que temiam não ser para si. Mas foi, ainda que só por uma noite.

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