2 de fevereiro de 2013

Alexander von Schlippenbach “Schlippenbach Plays Monk” (Intakt, 2012)



Monk é um elemento tão inexpugnável da estética de Schlippenbach que, aqui, mesmo com uma introdução, oito interlúdios e um epílogo assinados pelo alemão, nunca se dá confundir-se quem toca o quê. Até porque a perversão de uma leitura que atribuísse a este programa responsabilidades autorais repartidas, embora correta, despertaria equívocos de interpretação. Isto é, este disco não trata de atomizar as referências centrais ao genial norte-americano desaparecido há 30 anos em proveito de uma linguagem que, dela derivando, se acusou já de estar há mais tempo preocupada em apagar as suas próprias pegadas. Muito pelo contrário, será até pela análise do material original – cuja aforística concisão, instabilidade tonal e forte sentido de estrutura conseguem obliquamente sugerir o que faria um pianista de stride ou ragtime com as miniaturas de Schoenberg – que melhor se compreenderá o quanto é já um constituinte do outro. E é essa tremenda coalescência que se deve celebrar, com as angulares cogitações, predileções dialetais, deslocadas enfatizações e lacónicas melodias presentes em ‘Introspection’, ‘Epistrophy’ ou ‘Pannonica’ expostas numa cristalina esquematização que, no passado, apenas Ran Blake, Giorgio Gaslini ou Franco D’Andrea terão encarado com tamanha ambiguidade. De facto, tornar maleáveis figuras rítmicas praticamente extorsionárias ou questionar a impropriedade com que Monk apresentava os seus temas sem prejudicar a sua frágil elegância matricial requer escapar ao domínio do compositor. E, talvez até mais neste caso do que em “Monk’s Casino”, acrescentou Schlippenbach àquelas harmonias recheadas de dissonância e insinuantes intervalos um recurso frequentemente delas ausente: a ternura. O que só prova tudo o que aprendeu com Monk e, de certa forma, o pouco que os outros aprenderam consigo.

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