Há 20 anos que o guineense Sékouba ‘Bambino’ Diabaté dá
resposta às ambiguidades do mercado, alternando discos de música tradicional e popular.
E será o menor dos males gerir, enquanto esteta do sincretismo com escola feita
nos Bembeya Jazz e Africando, uma ilusão de sincronicidade para os dois
modelos. Afinal, foi com “Sinikan”, em 2002, que realizou uma das mais felizes expressões
da sua carreira, estimulando afirmativas melodias mandingas com o verbalismo
justiceiro do rap ou vaporizando orquestrações folclóricas com aqueles atmosféricos
borriços que produtores europeus projetam no afropop sempre que lhe pretendem sublinhar
poesia interior. Mas se aí, num raro regime de lirismo e substância em que
cabiam ainda tonalidades arábicas ou o funk, era unívoca a interpretação das
suas ambições, já com o par de álbuns lançados em 2012 – “Innovation” e
“Diatiguyw”, que “The Griot’s Craft” renomeia e promove junto de uma plateia internacional
– se confirma uma incicatrizável fratura no seu público-alvo. Porque, de facto,
parece depender o primeiro de uma inconcebível teleologia que remonta a finais
dos anos 80, quando a única manifestação moderna para a música africana de
extração francófona seguia os preceitos do caribenho zouk, e cumprir o segundo
uma necessidade conservacionista. E a verdade é que correspondem a uma certa
esquizofrenia comercial, embora em nenhum momento se aquebrante Bambino, um luminoso
e judicioso veículo para as mais delicadas emoções domésticas. No fundo, possuem
uma lógica perversa: o que julga inovar frustra qualquer significado contemporâneo,
e é o que obedece a obrigações laudativas e sociais – com dedicações a
tuaregues ou com a denúncia da mutilação genital feminina – que vem representar
aquilo que, basta ler as mais recentes notícias chegadas do Mali, realmente
importa nos nossos dias. E isso é inestimável.
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