Tão célebre quanto a famosa ópera
“O Franco-Atirador” foi a frase que a obra inspirou em Hans Pfitzner acerca do
seu compositor: com característica acerbidade, sugeriu esse inveterado saudosista
que por nenhum outro motivo, que não a edificação de tal ode ao espírito
germânico, veio Carl Maria von Weber (1786-1826) ao mundo. É certo que Pfitzner
bradava num palco carcomido por dois vetores que na sua mente se sobrepunham – pátria
e paixão –, mas é evidente que, desde então, poucas peças de Weber se afirmaram
no cânone. Estudantes de clarinete estarão, quiçá, familiarizados com a sua
produção (Weber dedicou um “Concerto” e um “Quinteto” ao virtuoso Heinrich
Baermann), mas é raro tropeçar no seu nome em récitas. Já em matéria de
gravações o último par de anos inverteu essa tendência: a Hyperion coligiu as suas
sonatas para piano, a Chandos lançou as suas duas sinfonias, a Linn registou uma
série de concertos seus para sopros, a EMI acaba de reeditar uma antiga leitura
das suas missas e eis agora, na Harmonia Mundi, as “Seis Sonatas para Piano e
Violino” e o “Quarteto para Piano”. E a verdade é que logo se impõem por
relembrar o satírico multiculturalista que Weber também foi. Os temperos
nacionalistas das sonatas, por exemplo, com as suas sardónicas indicações (“Air
Russe”, “Carretere Espagnuola” [sic], “Air Polonais” ou “Finale Siciliano”),
ouvem-se como uma paródia da Escola de Viena e, até, como um humorístico prenúncio
do folclórico amanteigado ingenuamente barrado em quase todo o romantismo
subsequente. Mas é no quarteto – ou melhor, nos seus adágio e minueto – que tudo
se complica: organização enigmática, silêncio lacónico, fragmentos melódicos de
algum absurdo, bizarras harmonizações, o galanteio de Mozart lançado nas
profundezas, a garra que vinha do escuro. Isabelle Faust, até pelo apelido,
está como peixe na água.
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