A ideia não é, em si, nova. E, para
nos ficarmos por companheiros geracionais, convirá relembrar esse paradigmático
par de álbuns – um de originais e outros de versões – que Ethan Iverson,
pianista dos Bad Plus, expôs há quinze anos no teorema “Construction Zone” e
“Deconstruction Zone”, e recordar as incursões que o próprio Iverson, mas também
Greg Osby, Jason Moran, Vijay Iyer ou, coetaneamente, Dave Douglas e Herbie
Hancock, fizeram pela pop contemporânea. É quase uma tradição dentro de outra. Afinal
de contas, já na alvorada do jazz, foi precisamente pela descoberta da música
popular mais heterodoxa que aquelas bandas paroxísticas e ágeis – constituídas
em redor de grémios, festivais, piqueniques, bailes, marchas e excursões –
escaparam à sua condição provincial e arquitetaram uma crucial transmutação,
abandonando genericamente o mutualismo em prol da arte de solistas pela qual se
veio a reconhecer o mais virtuoso no género. E terá sido esse libertário
postulado o motor de todos os celeumas. Por tudo isso não admira que, meses
após o autoral “Ode”, proponha Mehldau, coadjuvado, como é hábito, por Larry
Grenadier e Jeff Ballard, que se torne a equacionar a densidade do seu discurso
artístico sob o pretexto de uma visita ao repertório de Nick Drake, Chico
Buarque, Jimi Hendrix, Sufjan Stevens, Alice in Chains ou Elvis Costello,
reforçando, nesta era de aplicativos personalizados para a reprodução digital
de música, o papel do intérprete como o de um curador de sensibilidades. Há,
inevitavelmente, uma afetação da postura do pianista ao lidar com tamanha
estilização, mas no melhor da sua obra assinada sobressai um fascínio pela
estrutura que aqui se prova valioso. Um axiomático formulista,
perfeitamente empático em ‘Baby Plays Around’ e ‘Samba e Amor’.
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