23 de fevereiro de 2013

Brad Mehldau Trio “Where Do You Start” (Nonesuch, 2012)



A ideia não é, em si, nova. E, para nos ficarmos por companheiros geracionais, convirá relembrar esse paradigmático par de álbuns – um de originais e outros de versões – que Ethan Iverson, pianista dos Bad Plus, expôs há quinze anos no teorema “Construction Zone” e “Deconstruction Zone”, e recordar as incursões que o próprio Iverson, mas também Greg Osby, Jason Moran, Vijay Iyer ou, coetaneamente, Dave Douglas e Herbie Hancock, fizeram pela pop contemporânea. É quase uma tradição dentro de outra. Afinal de contas, já na alvorada do jazz, foi precisamente pela descoberta da música popular mais heterodoxa que aquelas bandas paroxísticas e ágeis – constituídas em redor de grémios, festivais, piqueniques, bailes, marchas e excursões – escaparam à sua condição provincial e arquitetaram uma crucial transmutação, abandonando genericamente o mutualismo em prol da arte de solistas pela qual se veio a reconhecer o mais virtuoso no género. E terá sido esse libertário postulado o motor de todos os celeumas. Por tudo isso não admira que, meses após o autoral “Ode”, proponha Mehldau, coadjuvado, como é hábito, por Larry Grenadier e Jeff Ballard, que se torne a equacionar a densidade do seu discurso artístico sob o pretexto de uma visita ao repertório de Nick Drake, Chico Buarque, Jimi Hendrix, Sufjan Stevens, Alice in Chains ou Elvis Costello, reforçando, nesta era de aplicativos personalizados para a reprodução digital de música, o papel do intérprete como o de um curador de sensibilidades. Há, inevitavelmente, uma afetação da postura do pianista ao lidar com tamanha estilização, mas no melhor da sua obra assinada sobressai um fascínio pela estrutura que aqui se prova valioso. Um axiomático formulista, perfeitamente empático em ‘Baby Plays Around’ e ‘Samba e Amor’.

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