9 de fevereiro de 2013

Britten: Cello Symphony, Cello Sonata & Cello Suites (Hyperion, 2013)



Alban Gerhardt (vc), Steven Osborne (p), BBC SSO, Andrew Manze (d)

Ainda a procissão vai no adro, no que concerne à celebração do centenário de Benjamin Britten (1913-1976), e, inflamados por uma recente biografia escrita por Paul Kildea, já os espíritos mais fleumáticos se inquietam, reconduzindo o quadro geral de circunspeta comemoração à instância de polémica paroquial. Afinal, trata o livro de aventar nova causa para a morte de uma figura que, pese embora a homilética institucional que inspirou, nem sempre gerou consensos. Dimensão a que alude ideologicamente a obra aqui reunida, procedente de um período (1961-1971) no qual, contrariando o asfixiante sectarismo da guerra fria, o britânico se aproximou de Richter, Shostakovich e Rostropovich, seu dedicatário e paradigmático intérprete. Nesse particular, a perspetiva de Alban Gerhardt não é de todo avuncular. A sua ágil leitura da “Sinfonia para violoncelo e orquestra”, por exemplo, que vai da gravidade morosa à alacridade desembaraçada, sugere uma visão muito distinta da do violoncelista russo, que a tocava como se de uma luta até à morte se tratasse; jamais ignorando a tensão inerente à peça, com as suas oscilações tonais, guinadas discursivas e harmonias ora dissentâneas ora adstringentes, mantem-se irresolúvel o confronto entre a fortitude autonómica e a cobiçada estabilidade coligativa. Em complemento, a “Sonata em dó para violoncelo e piano” é um jogo do gato e do rato que acentua uma derivação melódica de Gershwin, e as três “Suítes para violoncelo” operam uma capciosa revisão do homólogo legado de Bach (a primeira amalgama as suas sarabandas mas inclui também uma citação de ‘Golliwogg’s Cakewalk’, de Debussy, e uma chacona com coloração purcelliana), com paragens em Shostakovich (ecoa a sua “5ª Sinfonia” pela segunda) e no folclore eslavo (na terceira). Quase tudo, uma chorosa sirene de nevoeiro numa missão de resgate.

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