Os nomes próprios, por inspiração
paterna, vinham do apelido composto do fundador do escutismo, Lord
Baden-Powell, e é indesmentível que o guitarrista brasileiro aparentava levar
uma vida de prospetivo nomadismo. Já o sobrenome, efetivamente familiar,
remetia para Tomás de Aquino, o qual terá porventura lido sob o prisma da
dialética aristotélica que o teólogo dominicano integrou no cristianismo. Mas a
verdade é que Baden Powell de Aquino era mais virtuoso e errante nos palcos do
que longe deles, apesar de europeiamente domiciliado no final da década de 60 em
Paris e, quem sabe se num acaso chistoso, em Baden-Baden. Aí, tendo encontrado
a luz na floresta negra através de uma série de títulos para a germânica MPS, confirmou-se
um distinto hilemorfista, esculpindo materiais folclóricos com um decoro
absolutamente ético, ainda que os estivesse a inventar à medida que lhes
conferia forma. Porque, noutra das contradições a que entregou a ação, Powell operava
na esfera do mito sobretudo quando a sua audiência acreditava estar perante a
personificação do sincretismo popular sul-americano. A reedição de “À Vontade”,
o seu quarto álbum, gravado em 1963, evoca a génese de tão singulares
características e relembra o instante, algo contingencial, em que abandonou em
definitivo o que se preparava para ser uma carreira largamente subterrânea. Ao
estrear quatro dos 25 afro-sambas escritos em apenas três meses com Vinicius de
Moraes (‘Consolação’, ‘O Astronauta’, ‘Candomblé’ e ‘Berimbau’), é igualmente o
momento em que se ditou um destino que, não obstante a generosidade, a complexidade
e a originalidade das suas criações, jamais se afastaria dessa fantasiosa visão
do primitivismo afro-baiano. Espartano, esquivo e elegante, Baden Powell tocava
como se tivesse pudor em largar beleza no mundo. Foi essa a sua maior dádiva.
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