9 de fevereiro de 2013

Joe Lovano Us Five “Cross Culture” (Blue Note, 2013)



Nem exatamente comemorativo nem objetivamente retrospetivo, este trigésimo álbum de Lovano, editado dias depois do sexagésimo aniversário do seu autor, pode, no entanto, entender-se como a expansiva circuição de um impulso fundamental à sua exegese, identificável já em “Village Rhythm” (Soul Note, 1988) e “Worlds” (Evidence, 1989): o de, sem o exorbitar, disputar a territorialidade do jazz. Parecia, aliás, organizado para esse fim este quinteto – Esperanza Spalding no contrabaixo, James Weidman ao piano, Otis Brown III à bateria e o cubano Francisco Mela também na percussão – quando, em 2009, se estreou com o enunciativo “Folk Art” (Blue Note). E, à partida, “Cross Culture” sugere, com a inclusão numa mão cheia de temas do contrabaixista búlgaro Peter Slavov e do guitarrista beninês Lionel Loueke, oblíquo testemunho do multiculturalismo inerente ao Berklee College of Music, prolongar essa tendência de enquadrar a ação do coletivo num plano informado pela mais englobante e extravagante noção de música popular. Mas, à exceção do complacente ecletismo universalista de ‘Drum Chant’ e ‘Golden Horn’, nada aqui subscreve de forma evidente tais princípios. Pelo contrário, rebatendo a ansiedade estética proposta em tese, na maioria dos restantes originais – só a balada de Ellington e Strayhorn, ‘Star Crossed Lovers’, uma espécie de luxação neste alinhamento, não foi composta pelo líder – distingue-se um movimento pivotante, jamais afetado por efeitos decorativos mas sim impregnado daquilo que ainda caracteriza a melhor improvisação: o respeito pelos materiais a par do profundo desejo em os alterar. Lovano, laborioso e sardónico, ruminante e esquivo, confirma uma diligência quase proletária no seu discurso e encarna um papel criado à sua medida: o do concretista consciente de que vive num mundo de abstracionismo

Sem comentários:

Enviar um comentário