11 de maio de 2013

Bombino “Nomad” (Nonesuch, 2013)



Na última década, o fantasioso e subversivo ‘blues do deserto’ – promulgado por Tinariwen, Toumast, Terakaft, Etran Finatawa, Tartit ou Tamikrest – ilustrou na perfeição o estágio final da utopia para itens musicais ameaçados, convertendo-se de remota causa faccionária em acessível marca registada para consumo universal, com as suas comitivas de agentes e sedes oficiais de dissensão, o mais zeloso séquito e o Rough Guide da praxe, não dispensando sequer – na sua ascensão a símbolo mundial da guerrilha urbana, apto a disputar a popularidade do lenço de Arafat – de uma elementar etapa degenerativa. Será, presumivelmente, ao que se referem todos quanto, na resenha a este terceiro ensaio de Bombino, ressalvam, por exemplo, as comprometedoras condições de produção de “Nomad”, com gravações rigorosamente vigiadas por Dan Auerbach, vocalista dos Black Keys – uma banda com a qual, aliás, e caso tivesse o mínimo conhecimento da sua atividade, até se vislumbra o extático guitarrista nascido no Níger a simpatizar. Mas, mais hipotético que efetivo, tal branqueamento surge contrariado pelo essencial do sucessor de “Guitars from Agadez, Vol. 2” (captado no terreno pela Sublime Frequencies, em 2007, no seguimento de uma sessão consagrada ao Group Inerane) e “Agadez” (Cumbancha, 2011), que mais não faz do que prolongar uma cândida e branda – e em permanente oposição aos acontecimentos recentes – mensagem de paz para o povo tuaregue. Por sinal, atua de forma pouco imaginativa, liofilizada e embaraçada por uma conceção genericamente rudimentar do blues rock de travo psicadélico, evocando uma estratégia há 45 anos aplicada pela Cadet a álbuns de Muddy Waters e Howlin’ Wolf, mas a verdade é que a esperança ainda supera o marketing. Valha-nos isso.

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