Na última década, o fantasioso e
subversivo ‘blues do deserto’ – promulgado por Tinariwen, Toumast, Terakaft,
Etran Finatawa, Tartit ou Tamikrest – ilustrou na perfeição o estágio final da
utopia para itens musicais ameaçados, convertendo-se de remota causa
faccionária em acessível marca registada para consumo universal, com as suas comitivas
de agentes e sedes oficiais de dissensão, o mais zeloso séquito e o Rough Guide
da praxe, não dispensando sequer – na sua ascensão a símbolo mundial da
guerrilha urbana, apto a disputar a popularidade do lenço de Arafat – de uma elementar
etapa degenerativa. Será, presumivelmente, ao que se referem todos quanto, na
resenha a este terceiro ensaio de Bombino, ressalvam, por exemplo, as comprometedoras
condições de produção de “Nomad”, com gravações rigorosamente vigiadas por Dan
Auerbach, vocalista dos Black Keys – uma banda com a qual, aliás, e caso
tivesse o mínimo conhecimento da sua atividade, até se vislumbra o extático guitarrista
nascido no Níger a simpatizar. Mas, mais hipotético que efetivo, tal
branqueamento surge contrariado pelo essencial do sucessor de “Guitars from
Agadez, Vol. 2” (captado no terreno pela Sublime Frequencies, em 2007, no
seguimento de uma sessão consagrada ao Group Inerane) e “Agadez” (Cumbancha,
2011), que mais não faz do que prolongar uma cândida e branda – e em permanente
oposição aos acontecimentos recentes – mensagem de paz para o povo tuaregue.
Por sinal, atua de forma pouco imaginativa, liofilizada e embaraçada por uma
conceção genericamente rudimentar do blues
rock de travo psicadélico, evocando uma estratégia há 45 anos aplicada pela
Cadet a álbuns de Muddy Waters e Howlin’ Wolf, mas a verdade é que a esperança
ainda supera o marketing. Valha-nos
isso.
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