4 de maio de 2013

Royal Band de Thiès “Kadior Demb” (Teranga Beat, 2012)



Como tantas vilas na costa ocidental africana, Thiès desenvolveu-se de acordo com imperativos coloniais, devendo-se o ímpeto fulcral para o seu crescimento à construção de um entroncamento ferroviário que agilizou a comunicação entre Dakar e o resto do país, e, ao fim de décadas de empreitada, concretizou a junção com a linha vinda de Bamako, no Mali. O surto de atividade comercial deu origem a uma fixação de populações migrantes – de diversas etnias e nacionalidades – e ao correspondente aumento do tecido urbano, com os seus bairros residenciais, pequenos negócios, praças e mercados, bares e restaurantes. É o tipo de cidade na região que, desde a independência, se desfaz em nostalgia e se revela perversamente indiferente ao progresso. Em agosto de 2004, o grego Adamantios Kafetzis, colecionador de discos, brindava a glórias passadas num bar local, transportado por uma banda para um tempo sem retorno. Descobriu que o distinto barítono que o enfeitiçava em palco era o de Adama Secka, cantando ao lado da vetusta Royal Band de Thiès. A continuação da história é familiar: Secka conduziu-o a James Gadiaga, antigo vocalista do grupo, ex-Super Diamono e atual Super Cayor, que por sua vez lhe entregou uma preciosa fita, na sua posse há 25 anos – imaculadas gravações de 1979 realizadas por Moussa Diallo, o mesmo que registou álbuns de Youssou N’Dour com a Étoile de Dakar, de Pape Seck com a Number One ou o mítico “Pirates Choice”, da Orchestra Baobab. O que aí ouviu – e que agora edita neste “Kadior Demb” – é o mesmérico som dessa gente em trânsito, vaporizando formas cubanas, embriagando ritmos tribais, vivendo o sonho a cada nota na guitarra elétrica e a cada baforada no saxofone, algo tão essencial e vibrante quanto a própria vida e tão belo e inesquecível quanto esses símbolos da modernidade senegalesa, até hoje perdido na noite.

Sem comentários:

Enviar um comentário