18 de maio de 2013

Liszt: Transcriptions, Niu Niu (EMI, 2013) & Liszt: The Complete Wagner & Verdi Transcriptions, Michele Campanella (Brilliant Classics, 2013)



 
Com a vulnerável impetuosidade da juventude, Zhang Shengliang – o púbere chinês, de 15 anos, internacionalmente conhecido por Niu Niu – propõe um programa que ressalva o generoso proselitismo de Franz Liszt (1811-1886), sublinhando-lhe simultaneamente as mais quiméricas capacidades, num conjunto de transcrições de Saint-Saëns, Paganini, Schubert e Wagner. Naturalmente, o prodigioso pianista deleita-se na travessa e dilatada secção central da “Danse Macabre” – que estimula com invulgar acerbidade – e prova-se apropriadamente temperamental num trio de temas extraídos aos “Grandes Études de Paganini”, cuja lendária transcendência domestica com sutileza e sobriedade, mas, em “Das Wandern” ou em “Isoldes Liebestod”, perde alguma fluidez quando, em peças do austríaco e do alemão, o essencial da ação se transfere do tempo cronológico para o psicológico. É, de certa forma, um problema de perspetiva de que está isento o italiano Michele Campanella ao concentrar, neste ano de bicentenários, o integral das incursões do compositor húngaro na obra – predominantemente operática – de Verdi (1813-1901) e Wagner (1813-1883), reforçando-lhes um aspeto de manifesta modernidade: a imposição da paráfrase como um instrumento ao serviço do mais escrupuloso multiculturalismo. De facto, Liszt operou aqui no coração de um dogma – o da construção identitária – que conduziu aos limites da invenção e da ética, intervenção que mais vital e definitiva se tem revelado com o passar dos anos.

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