18 de maio de 2013

Rodrigo Amado Motion Trio + Jeb Bishop “The Flame Alphabet” (Not Two, 2012-13)



A formação é tão singular – Amado no saxofone tenor, Miguel Mira no violoncelo, Gabriel Ferrandini à bateria e Bishop ao trombone – quão ilusória. Afinal, Mira abstém-se de tocar com arco, entregando-se a uma atuação ora elementarmente telegráfica, ora simbolicamente torrencial, que, de certa forma, aproximando-se da arquetípica ação de um contrabaixista, burla expectativas de premeditação harmónica e impossibilita as distrações de dinâmica e extensão associadas ao seu instrumento. O que, fazendo jus ao nome do trio, indicia que, de facto, parte significativa dos seus procedimentos – imperturbavelmente lógicos e empaticamente flexíveis – terá que ver com mobilidade. Aliás, violoncelista e baterista, resistindo a indiscrições paroquiais, manobram com comadresco à-vontade por estes cinco originais de espontânea combustão, colorindo, pontuando, comentando e atribuindo às mais discursivas linhas traçadas pelos sopradores uma dimensão praticamente vernacular. Ferrandini, em particular, prova que, neste contexto, a mais voluntariosa animação pode ter tanto de fascinante quanto de fútil, transferindo para gestos de sutileza orquestral a fortitude rítmica de que não dispensa, disparando certeiras centelhas e articulando agitados assaltos sem hostilizar a integridade narrativa de cada tema. Trata-se de um valor de progressiva importância no universo criativo de Rodrigo Amado – capital na manifestação do seu evadido romantismo e pretexto para uma eloquente exploração do seu fraseado – que se vê aqui minuciosamente reforçado pela clareza de tom de Bishop, um notável gestor do espaço. É precisamente pela predisposição conversacional entre saxofonista e trombonista – de tal forma deliberada que estimula intrigantes coincidências – que se identifica o essencial nesta sessão: ritualizar o informe, resistir à alegoria, celebrar a chama sagrada.

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