11 de maio de 2013

Dieter Ilg “Parsifal” (ACT, 2013) & Eric Schaefer “Who Is Afraid Of Richard W.?” (ACT, 2013)


Foi Chuck Jones quem, em 1957, quis “pegar nas 14 horas do ‘Anel’ e abreviá-las para seis minutos”, conforme explica Daniel Goldmark em “Tunes for ‘Toons: Music and the Hollywood Cartoon”, ao analisar “What’s Opera, Doc?”, curta-metragem de animação protagonizada por Bugs Bunny e Elmer Fudd que propunha um hilariante pasticho de operáticos estereótipos extraídos a Richard Wagner (1813-1883). Não seria bem isso que teria em mente o compositor quando aludiu ao unificador conceito do gesamtkunstwerk, mas é inegável que, décadas depois, até uma lebre travestida de Brunilde personificava o fundamental da sua mais grandiloquente parafernália visual, dramática e musical. Em ano de bicentenário, convirá lembrar que, quer na ação do realizador ao serviço da Warner Bros., quer na de Fauré, Hindemith ou Eisler, que temperaram a pompa metafísica do mesmo material com equivalentes doses de distorção humorística, o contexto é tudo. Aliás, bastará a audição deste par de discos para concluir que, logo pelo próprio ato de deslocação formal – dedicado a “Parsifal” o elegante trio de jazz de Ilg e abarcando ilustres páginas da tetralogia o quarteto chunga de Schaefer –, não haverá mais digna e eficaz paródia a estas obras do que tocá-las como elas, essencialmente, são, ainda que, para tal, se destile em burlesco o seu aparato oracular e a sua ingenuidade narrativa, e se zombe o totalitarismo subjacente à sua grotesca sacralidade e demente monumentalidade.

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