Foi Chuck
Jones quem, em 1957, quis “pegar nas 14 horas do ‘Anel’ e abreviá-las para seis
minutos”, conforme explica Daniel Goldmark em “Tunes for ‘Toons: Music and the
Hollywood Cartoon”, ao analisar “What’s Opera, Doc?”, curta-metragem de
animação protagonizada por Bugs Bunny e Elmer Fudd que propunha um hilariante
pasticho de operáticos estereótipos extraídos a Richard Wagner (1813-1883). Não
seria bem isso que teria em mente o compositor quando aludiu ao unificador
conceito do gesamtkunstwerk, mas é inegável que,
décadas depois, até uma lebre travestida de Brunilde personificava o
fundamental da sua mais grandiloquente parafernália visual, dramática e
musical. Em ano de bicentenário, convirá lembrar que, quer na ação do
realizador ao serviço da Warner Bros., quer na de Fauré, Hindemith ou Eisler,
que temperaram a pompa metafísica do mesmo material com equivalentes doses de
distorção humorística, o contexto é tudo. Aliás, bastará a audição deste par de
discos para concluir que, logo pelo próprio ato de deslocação formal – dedicado
a “Parsifal” o elegante trio de jazz de Ilg e abarcando ilustres páginas da
tetralogia o quarteto chunga de Schaefer –, não haverá mais digna e eficaz paródia
a estas obras do que tocá-las como elas, essencialmente, são, ainda que, para
tal, se destile em burlesco o seu aparato oracular e a sua ingenuidade
narrativa, e se zombe o totalitarismo subjacente à sua grotesca sacralidade e demente
monumentalidade.
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