6 de julho de 2013

Esprit Des Balkans/Balkan Spirit (Alia Vox, 2013)




Gyula Csík, Bora Dugic, Tcha Limberger, Nedyalko Nedyalkov,
Dimitri Psonis, Moslem Rahal, Hespèrion XXI, Jordi Savall (d)

Uma romaria de jangadas engalanadas com flâmulas e grinaldas de flores escolta um ícone rio abaixo; uma procissão agita incensórios nas margens e mistura-se a neblina com a fumaça das fogueiras; chamejam detritos de madeira pela cintilante superfície das águas tépidas e quase naufraga a escotilha com a ruidosa desordem de músicas e danças que empesta o ar, até que de um lanho na terra desponta o clamor de um coro para o fim dos dias. Trata-se de uma cena de “O Tempo dos Ciganos”, o filme de Emir Kusturica que, há 25 anos, renovou nas plateias internacionais o fascínio pelo ‘folclorismo mágico’ das Balcãs. A canção que a ilustrava era desobrigada de qualquer filiação cultural específica através da salganhada orquestral de Goran Bregovic, numa estratégia – extensível às insanas fanfarras de “Underground” – que lhe garantiu lugar cativo nos festivais de ‘música do mundo’ no preciso momento em que a Jugoslávia se desintegrava. Conforme escreve Pedrag Matvejevic no livreto desta edição: “Nas Balcãs, nem sempre se permitiu que o passado se convertesse em História”. Isto é, domina uma agenda tendenciosamente esotérica e paradoxal em que se sobrepõe o mito à realidade. Por isso, sabe o autor de “Breviário Mediterrânico” que, por aí, “o património que tentamos salvar contém em si parte daquele património de que precisamos que nos salvem”. Jordi Savall refere-se ao mesmo orgiástico fratricídio que desfigurou traços comuns em muitos – sérvios, romenos, turcos, gregos, curdos – dos que ganham representação neste álbum. Mas onde alguns veem o “barril de pólvora da Europa”, encontra o catalão o seu berço, num mosaico multicultural unido exatamente por aquilo que inflama a retórica nacionalista: identidade e paixão.

Sem comentários:

Enviar um comentário