O Modern Jazz Quintet Karlsruhe
(MJQK) vinha com certificado de origem, como quem diz que nenhuma difamação havia
sido capaz de erradicar o jazz de solo alemão – relembre-se o conceito de Negermusik, durante o regime nazi. Aliás,
na República Federal, antes ainda, por via dos Frankfurt All-Stars, os irmãos Albert
e Emil Mangelsdorff, com Hans Koller, Rudi Sehring, Joki Freund, Peter Trunk e
Pepsi Auer, tinham dado a entender que também a partir das margens do Reno e do
Meno se disseminava o jazz em partículas instáveis – cf. “Rhein Main Jump” (Jazztone, 1958). Eram designações que se
publicitavam de forma instantânea, sim, mas eram ao mesmo tempo formas de garantir
a salvaguarda da excecionalidade artística dos seus agentes e da intrínseca exclusividade
de tudo quanto promulgavam. Não obstante, em 1968, quando o MJQK se formou, a
reivindicação de carácter provinciano vinha a contracorrente – para a História
do jazz alemão da época ficam modelos institucionais marcados pela coletivismo,
como “Globe Unity”, de Alexander Von Schlippenbach (SABA, 1967), e “European
Echoes”, de Manfred Schoof (FMP, 1969), discos com gente de muitas
proveniências que se orgulhava de ter criado o Espaço Schengen anos antes dos
políticos. No entanto, ouvindo “Trees” (Excenter, 1969) e, sobretudo, “Position
2000” (MJQK, 1970), não se pode dizer que o quinteto de Herbert Joos
(fliscorne, sopros), Wilfried Eichhorn (saxofone, flauta), Helmuth Zimmer
(piano), Rudi Theilmann (bateria) e Klaus Bühler (contrabaixo) exemplificasse a
liberdade de modo menos puro que os outros.
Além do mais, passando em revista a sua obra completa – que inclui os
álbuns “Volume One” (Edition W. Wacker, 1972) e “Eight Science Fiction Stories”
(FMO, 1974), de Fourmenonly (leia-se Four Men Only), denominação assumida pelo
grupo após a saída de Bühler – entende-se que foram dos poucos a olhar para a
caracterização free jazz, na altura, e a ver um verbo, além de um adjetivo:
isto é, não só “jazz livre” como igualmente “jazz libertado”. Nessa perspetiva,
elegantes temas nos quais se denota uma gestão do silêncio capaz de revogar
todo e qualquer estereótipo, e em que se recorre a materiais mais esotéricos e menos
descontínuos, disruptivos, radicais e corrosivos que o habitual, como ‘The Sun
is Coming Over’ (1970), ‘Viridiana’ (1972) ou ‘Ich und meine Brüder’ (1972),
apontam já para o que, a solo, Joos viria a fazer em “The Philosophy of the
Fluegelhorn” (JAPO, 1974), uma das mais espirituais e expressivas decantações
do período, para lá de categorias e do vernáculo, quase para lá do tempo. Anos
depois, não admira que viesse a protagonizar “From No Time to Rag Time”, da
Vienna Art Orchestra (Hat Hut, 1983), quando não lhe passava pela cabeça que os
discos do MJQK pudessem ser uma coisa do futuro. Mas, ei-los.
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