5 de setembro de 2020

Admas “Sons of Ethiopia” (Frederiksberg, re. 2020)

A propósito da reedição de “Sons of Ethiopia” (1984), em conversa com o “Bandcamp Daily”, há umas semanas, Tewodros Aklilu (piano elétrico) lembrava os tempos em que os Admas acompanhavam ao vivo grandes nomes da canção etíope, como Aster Aweke: “Éramos uma banda de apoio para concertos na área de Washington, D.C.. Mas antes dos cantores subirem ao palco, tocávamos instrumentais. Aí, entusiasmávamo-nos à séria. Era a nossa música.” Bom, em termos genéticos, não seria exclusivamente sua, mas a verdade é que também não soava à de mais ninguém: pelo que produziam, é óbvio que Aklilu, Henock Temesgen (guitarra), Abegasu Shiota (sintetizador) e Yosef Tesfaye (bateria) não sintonizavam as antenas pelas frequências de Adis Abeba – no fundo, de nada adiantaria que o fizessem. Aí, com a indústria fonográfica desmantelada, a censura e o recolher obrigatório, era como se uma geração tivesse nascido surda – e, como a Walias Band, os Ethio Stars ou a Roha Band, na época, os Admas eram filhos do exílio, de quem fugiu à junta militar Derg e na música encontrou forma de resgatar parte daquilo que teve de deixar para trás. Daí, o desarmante paradoxo de “Sons of Ethiopia”: não é por viverem nos EUA, trocarem a escala pentatónica pela diatónica, e por Aklilu, agora, fazer o possível por copiar a patente de teclistas como Greg Phillinganes, John Barnes e Randy Waldman no seio das famílias Jackson e Pointer, que o seu disco terá de ser menos etíope que os de outrora. Muito pelo contrário: o facto de ‘Tez Alegn Yetintu’ (uma versão de ‘Tezalègn Yètentu’, de Tilahun Gessesse) e de ‘Samba Shegitu’ (outra, de ‘Shegitu’, de Kassa Tessema) se confundirem com os Azymuth de “Flame” (1984), de ‘Astawesalehu’ (de Lemma Demissew) trazer à memória os Residents a tocar James Brown, ou de ‘Kalatashew Waga’ atualizar ‘Kalatashew Akal’ (Walias) para a era da Sugar Hill, seria mais uma forma de resistir à ditadura. Ninguém o entendeu, na altura, nem os Admas tornariam a gravar. Meses depois, com ‘We are the World’, deixar-se-iam ocupar as mentes com outros filhos da Etiópia, na esperança que também a esses a música concedesse salvação.

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