A propósito da reedição de “Sons of Ethiopia”
(1984), em conversa com o “Bandcamp Daily”, há umas semanas, Tewodros Aklilu (piano
elétrico) lembrava os tempos em que os Admas acompanhavam ao vivo grandes nomes
da canção etíope, como Aster Aweke: “Éramos uma banda de apoio para concertos
na área de Washington, D.C.. Mas antes dos cantores subirem ao palco, tocávamos
instrumentais. Aí, entusiasmávamo-nos à séria. Era a nossa música.” Bom, em
termos genéticos, não seria exclusivamente sua, mas a verdade é que também não
soava à de mais ninguém: pelo que produziam, é óbvio que Aklilu, Henock
Temesgen (guitarra), Abegasu Shiota (sintetizador) e Yosef Tesfaye (bateria)
não sintonizavam as antenas pelas frequências de Adis Abeba – no fundo, de nada
adiantaria que o fizessem. Aí, com a indústria fonográfica desmantelada, a
censura e o recolher obrigatório, era como se uma geração tivesse nascido surda
– e, como a Walias Band, os Ethio Stars ou a Roha Band, na época, os Admas eram
filhos do exílio, de quem fugiu à junta militar Derg e na música encontrou forma
de resgatar parte daquilo que teve de deixar para trás. Daí, o desarmante
paradoxo de “Sons of Ethiopia”: não é por viverem nos EUA, trocarem a escala
pentatónica pela diatónica, e por Aklilu, agora, fazer o possível por copiar a
patente de teclistas como Greg Phillinganes, John Barnes e Randy Waldman no
seio das famílias Jackson e Pointer, que o seu disco terá de ser menos etíope
que os de outrora. Muito pelo contrário: o facto de ‘Tez Alegn Yetintu’ (uma
versão de ‘Tezalègn Yètentu’, de Tilahun Gessesse) e de ‘Samba Shegitu’ (outra,
de ‘Shegitu’, de Kassa Tessema) se confundirem com os Azymuth de “Flame”
(1984), de ‘Astawesalehu’ (de Lemma Demissew) trazer à memória os Residents a
tocar James Brown, ou de ‘Kalatashew Waga’ atualizar ‘Kalatashew Akal’ (Walias)
para a era da Sugar Hill, seria mais uma forma de resistir à ditadura. Ninguém
o entendeu, na altura, nem os Admas tornariam a gravar. Meses depois, com ‘We
are the World’, deixar-se-iam ocupar as mentes com outros filhos da Etiópia, na
esperança que também a esses a música concedesse salvação.
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