6 de abril de 2013

Adriana Partimpim “Partimpim Tlês” (Minha Música/Sony, 2012)


Numa inócua expressão, da heterónoma aventura de Adriana pelos estágios pré-adolescentes da existência costuma dizer-se que segue com diligência uma conceção da infância inextricavelmente associada à alvorada da sociedade de consumo. Afinal, trata-se de uma invenção moderna, essa que determina de maneira inalienável um tempo de felicidade, bem-estar e diversão para todos – isto é, foi preciso esperar pelo século XX para que Peter Pan não se constituísse enquanto paradoxo. Cem anos depois, a síndrome da criança que se recusa a crescer transformou-se num estilo de vida sintetizado por Christopher Noxon em “Rejuvenile”, livro descaradamente inserido pela sua mulher, Jenji Kohan, em episódios da série televisiva de que é autora, “Weeds”; não por acaso, ‘Little Boxes’, a ladainha que o casal elegeu para acompanhar genericamente as desventuras de adultos disfuncionais, havia sido originalmente interpretada por Pete Seeger no período em que o cantor de intervenção, na peugada de Guthrie, alternava discos de provocante sátira política para graúdos com compêndios de elementar pedagogia para miúdos, prolongando uma linhagem que tem hoje descendente em Elizabeth Mitchell, cujo recente “Blue Clouds” é um novo tratado de sensibilidade e inteligência ao serviço da ideal primeira juventude. Num procedimento semelhante, nomeadamente na recondução de temas sérios para o espaço lúdico das pequenas criaturas, ao mesmo almeja Calcanhotto, embora aparente dirigir-se mais a pais que não querem envelhecer do que aos seus rebentos. Para tal contribui a arregimentação de estetas de bricabraque sonoro (Ceppas, Amarante, Kassin, Domenico, Moreno, Pedro Sá) que evitam a total marretização da sua chefe. Talvez seja pelo melhor, mas, no contexto brasileiro, ainda não é desta que Partimpim supera “Saltimbancos”, “Arca de Noé”, “Casa de Brinquedos” ou “Pirlimpimpim”.

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