Numa inócua expressão, da heterónoma aventura de Adriana pelos estágios
pré-adolescentes da existência costuma dizer-se que segue com diligência uma
conceção da infância inextricavelmente associada à alvorada da sociedade de
consumo. Afinal, trata-se de uma invenção moderna, essa que determina de maneira
inalienável um tempo de felicidade, bem-estar e diversão para todos – isto é,
foi preciso esperar pelo século XX para que Peter Pan não se constituísse enquanto
paradoxo. Cem anos depois, a síndrome da criança que se recusa a crescer transformou-se
num estilo de vida sintetizado por Christopher Noxon em “Rejuvenile”, livro descaradamente
inserido pela sua mulher, Jenji Kohan, em episódios da série televisiva de que
é autora, “Weeds”; não por acaso, ‘Little Boxes’, a ladainha que o casal elegeu
para acompanhar genericamente as desventuras de adultos disfuncionais, havia
sido originalmente interpretada por Pete Seeger no período em que o cantor de
intervenção, na peugada de Guthrie, alternava discos de provocante sátira
política para graúdos com compêndios de elementar pedagogia para miúdos, prolongando
uma linhagem que tem hoje descendente em Elizabeth Mitchell, cujo recente “Blue
Clouds” é um novo tratado de sensibilidade e inteligência ao serviço da ideal
primeira juventude. Num procedimento semelhante, nomeadamente na recondução de
temas sérios para o espaço lúdico das pequenas criaturas, ao mesmo almeja Calcanhotto,
embora aparente dirigir-se mais a pais que não querem envelhecer do que
aos seus rebentos. Para tal contribui a arregimentação de estetas de
bricabraque sonoro (Ceppas, Amarante, Kassin, Domenico, Moreno, Pedro Sá)
que evitam a total marretização da
sua chefe. Talvez seja pelo melhor, mas, no contexto brasileiro, ainda não é
desta que Partimpim supera “Saltimbancos”, “Arca de Noé”, “Casa de Brinquedos”
ou “Pirlimpimpim”.
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