13 de abril de 2013

Rudresh Mahanthappa “Gamak” (ACT, 2013)



Quando Mahanthappa apresenta “Gamak” – designação inspirada pela palavra em sânscrito gamaka, que, no contexto da música clássica indiana, se emprega para aludir às possibilidades de ornamentação de determinada melodia – referindo-se a uma “sensibilidade universal” de que toma posse, enquanto compositor e improvisador, de maneira a incluir na sua produção “jazz, rock progressivo, heavy metal, country, folclore, go-go”, simultaneamente recorrendo a “tradições indianas, chinesas, africanas e indonésias”, fica subentendido um alinhamento com uma posição – endémica à ecologia artística de Nova Iorque – que, com o passar dos anos, aparentou tornar-se mais uma contingência do que uma necessidade. Mas, de facto, encontra-se aqui o mesmo urgente sentido de exploração – moderado apenas, como em John Zorn ou Steve Coleman, pela imprescindível obrigação de se propor uma distinta identidade cultural – verificado nas mais vibrantes manifestações da retórica criativa da cena downtown: uma articulação clara, crua, calculada, clamante, atenta a tensas formalidades coletivas e a extemporâneas expressões individuais, num discurso tão poliglota quão vernacular. Nada de muito diferente, embora com uma linearidade temática e uma especificidade idiomática aí estilhaçadas, do que ensaiou Miles Davis entre “On the Corner” e “Get Up with It” – e, na sua órbita, logo desenvolveram Mahavishnu Orchestra e Return to Forever – ou, talvez despontando na memória por facilitismo geográfico, um prolongamento espiritual da parceria de Joe Harriott com Amancio D’Silva no final dos anos 60 e das reuniões de Jan Garbarek com L. Shankar em meados de 80. Mahanthappa está particularmente gregário, o guitarrista David ‘Fuse’ Fiuczynski confirma-se um polimórfico virtuoso e François Moutin, no contrabaixo, e Dan Weiss, na bateria, dois vigorosos polímatas.

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