Quando Mahanthappa apresenta
“Gamak” – designação inspirada pela palavra em sânscrito gamaka, que, no contexto da música clássica indiana, se emprega
para aludir às possibilidades de ornamentação de determinada melodia – referindo-se
a uma “sensibilidade universal” de que toma posse, enquanto compositor e
improvisador, de maneira a incluir na sua produção “jazz, rock progressivo, heavy
metal, country, folclore, go-go”, simultaneamente recorrendo a “tradições
indianas, chinesas, africanas e indonésias”, fica subentendido um alinhamento
com uma posição – endémica à ecologia artística de Nova Iorque – que, com o
passar dos anos, aparentou tornar-se mais uma contingência do que uma
necessidade. Mas, de facto, encontra-se aqui o mesmo urgente sentido de
exploração – moderado apenas, como em John Zorn ou Steve Coleman, pela imprescindível
obrigação de se propor uma distinta identidade cultural – verificado nas mais
vibrantes manifestações da retórica criativa da cena downtown: uma articulação clara, crua, calculada, clamante, atenta
a tensas formalidades coletivas e a extemporâneas expressões individuais, num
discurso tão poliglota quão vernacular. Nada de muito diferente, embora com uma
linearidade temática e uma especificidade idiomática aí estilhaçadas, do que ensaiou
Miles Davis entre “On the Corner” e “Get Up with It” – e, na sua órbita, logo desenvolveram
Mahavishnu Orchestra e Return to Forever – ou, talvez despontando na memória
por facilitismo geográfico, um prolongamento espiritual da parceria de Joe
Harriott com Amancio D’Silva no final dos anos 60 e das reuniões de Jan
Garbarek com L. Shankar em meados de 80. Mahanthappa está particularmente
gregário, o guitarrista David ‘Fuse’ Fiuczynski confirma-se um polimórfico
virtuoso e François Moutin, no contrabaixo, e Dan Weiss, na bateria, dois
vigorosos polímatas.
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