20 de abril de 2013

“Glass: Solo Piano Music” (Brilliant Classics, 2013); “Holt: Solo Piano Music, Volumes I-V” (Brilliant Classics, 2013)

 

Jeroen van Veen (p)

Numa entrevista a Marc Myers, publicada no site “JazzWax”, Burt Bacharach discorria nostalgicamente acerca dos tempos de estudante até que recorda um curioso episódio: num exigente Curso de Verão conduzido por Darius Milhaud, submete, com embaraço, uma lírica sonatina, inspirando no professor a surpreendente sugestão de que “jamais deveria recear criar algo tão melódico e memorável”. É um detalhe – dos que falava Mies van der Rohe –, e imagina-se o compositor francês a comentar qualquer coisa do género com outros dois alunos seus, Philip Glass (1937-) e Simeon ten Holt (1923-2012). Aforísticos e epigramáticos, mas com distintas relações com a duração – velocista o primeiro, corredor de fundo o segundo –, evocam ambos o “esplendor geométrico” do futurista Marinetti, valorizando aspetos assimétricos, ainda que o conceito de devir proposto por Heraclito permaneça a mais válida introdução à sua produção. Trata-se em parte de uma labiríntica organização do som – dividida em secções sujeitas a (potencialmente infinita) repetição e sutil transformação – que, condescendendo, se ouve como a improvisação de um pianista que a partir de três minutos de Mozart, Chopin e Bartók tenha de acompanhar durante horas um documentário sobre genética ou citologia. Fúteis de perto e relevantes ao longe, vagamente ritualistas, estas obras possuem uma graça e inteligência muito próprias, com as suas arpejadas intrigas e os seus refluxos narrativos. Holt mantém-se uma revelação.

Sem comentários:

Enviar um comentário