27 de abril de 2013

Peter Evans “Zebulon” (More is More, 2013”)



Acaba de se confirmar a sua presença em Portugal no próximo “Jazz em Agosto” – no qual tocará na versão ampliada do trio The Thing, de Mats Gustafsson, e depois enquanto líder de um octeto – e ainda há pouco andou por cá, convidado por Rodrigo Amado para uma atuação e gravação com o Motion Trio. Nessa ocasião, no Teatro Maria Matos, revelou-se um soprador tão ruminante quão expressionista, sonorizando cada nota desde o seu gasoso despontar bronquial até à sua liquefação em ruidosas cusparadas. Evans aparenta saber que uma contorcionista demonstração de técnica, ainda que frívola, se pode provar irresistível, e, sob essa perspectiva, mais não fez do que prolongar, no trompete, uma tradição que privilegiou frequentemente o episódico e o anedótico, o dito mordaz, o aparte humorístico, mas também, porventura de forma punitiva no contexto de uma manifestação coletiva, a mais loquaz tagarelice. Quanto muito, correspondendo em palco ao preceito com que nomeou a sua própria editora – a More is More –, procedeu com zelo maximal até quando examinava o potencial expressivo dos pistões e do bocal do seu instrumento, numa polifónica autópsia a hálitos e humidades. Mas, na verdade, esse será apenas um aspeto – talvez conscientemente superficial – na sua idiomática articulação. Porque “Zebulon”, um empático registo ao vivo com o baterista Kassa Overall e o contrabaixista John Hébert, sustenta o argumento de que é através de uma construção mais esquematicamente arquitetónica e narrativa que, na circunstância da improvisação, melhor exprimirá uma distinta filosofia de valores morais. Aqui, em quatro longos temas, expõe um denso fluxo de ideias de maneira irrevogável, numa epidémica coligação de materiais canónicos e cuidadosamente compostos, cuja rapidez de execução sugere espontaneidade mas que dependem antes de uma astuta e fulgurante deliberação. Puro jazz.

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