Acaba de se confirmar a sua presença
em Portugal no próximo “Jazz em Agosto” – no qual tocará na versão ampliada do
trio The Thing, de Mats Gustafsson, e depois enquanto líder de um octeto – e ainda
há pouco andou por cá, convidado por Rodrigo Amado para uma atuação e gravação
com o Motion Trio. Nessa ocasião, no Teatro Maria Matos, revelou-se um soprador
tão ruminante quão expressionista, sonorizando cada nota desde o seu gasoso
despontar bronquial até à sua liquefação em ruidosas cusparadas. Evans aparenta
saber que uma contorcionista demonstração de técnica, ainda que frívola, se
pode provar irresistível, e, sob essa perspectiva, mais não fez do que prolongar,
no trompete, uma tradição que privilegiou frequentemente o episódico e o
anedótico, o dito mordaz, o aparte humorístico, mas também, porventura de forma
punitiva no contexto de uma manifestação coletiva, a mais loquaz tagarelice. Quanto
muito, correspondendo em palco ao preceito com que nomeou a sua própria editora
– a More is More –, procedeu com zelo maximal até quando examinava o potencial
expressivo dos pistões e do bocal do seu instrumento, numa polifónica autópsia
a hálitos e humidades. Mas, na verdade, esse será apenas um aspeto – talvez
conscientemente superficial – na sua idiomática articulação. Porque “Zebulon”,
um empático registo ao vivo com o baterista Kassa Overall e o contrabaixista
John Hébert, sustenta o argumento de que é através de uma construção mais esquematicamente
arquitetónica e narrativa que, na circunstância da improvisação, melhor exprimirá
uma distinta filosofia de valores morais. Aqui, em quatro longos temas, expõe
um denso fluxo de ideias de maneira irrevogável, numa epidémica coligação de
materiais canónicos e cuidadosamente compostos, cuja rapidez de execução sugere
espontaneidade mas que dependem antes de uma astuta e fulgurante deliberação.
Puro jazz.
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