Zeloso curador na eminente “Databaseof Recorded American Music” e inspirado editor e redator na trimestral “SoundAmerican”, Nate Wooley vasculha habilmente nesse espaço em que se arquivam as vanguardas
norte-americanas. Quer isto dizer que, contrariamente à opinião comum, que
deprecia aspetos hereditários em manifestações artísticas de singular
configuração – e, durante anos, Wooley foi tido como um xamane do insólito –, o
trompetista cumpre os requisitos para que se entenda a sua ação à luz de um,
quiçá subterrâneo, contínuo cultural, no qual, por entre um número excecional
de forças expressivas, cabe, naturalmente, essa que se pratica numa jurisdição
invulgarmente atenta aos direitos de sucessão e se apelida de jazz. Seria,
aliás, presunçoso e injusto considerar que a sua produção – ao lado da de
análogos instrumentistas como Peter Evans, Greg Kelley, Franz Hautzinger ou
Axel Dörner, invariavelmente coadunados na estirpe de Bill Dixon – se gerava, qual
erva-daninha, espontânea e invasoramente. Dir-se-á que o quinteto – agora, com
o ingresso do tubista Dan Peck, expandido para sexteto – há dois anos
responsável por “(Put Your) Hands Together” se formou para dar resposta a esta
questão, ainda que salvaguardando uma premissa essencial: afiançar que cada um
dos seus agentes não se aliena no conjunto de vínculos históricos que possa reivindicar.
Ou seja, Wooley, Peck, Josh Sinton (saxofone barítono e clarinete baixo), Matt
Moran (vibrafone), Eivind Opsvik (contrabaixo) e Harris Eisenstadt (bateria)
promovem aqui – numa sessão que tem como único senão uma escrita nem sempre à
altura dos acontecimentos – uma genial abstração do pendor relacional no jazz
contemporâneo, evocando simultaneamente as mais extáticas e elegantes
características que procedem da sua fundação enquanto linguagem. Um caso sério.
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