9 de março de 2019

The Scorpions & Saif Abu Bakr “Jazz, Jazz, Jazz” (Habibi Funk, 2018)

Não será necessário dar um mergulho nas escrituras. Afinal, há uma classificação científica para fenómenos desta natureza: precisamente o táxon Lázaro, que se verifica quando certas espécies já consideradas extintas reaparecem. Agora, diz a Habibi Funk, à custa da reedição deste seu LP de 1980, são os membros dos sudaneses Scorpions que voltam à vida, reunindo-se no verão passado em Cartum, ao fim de quase 40 anos sem nada saberem uns dos outros – por mais peças que lhes dedique o “Al-Sudani”, hoje, para ressuscitar um morto, nada como um artigo na “Monocle”! Infelizmente saiu-lhes nas cartas reagruparem-se para serem novamente incompreendidos – é que não há quem pegue neste extraordinário “Jazz, Jazz, Jazz” (e a capa original tem sete vezes escrita a palavra jazz, uma para cada voltinha à Caaba, presume-se) sem se sentir na obrigação de explicar que o título é “algo equivocado” (in “Record Collector”). Imagina-se que isto é gente que nunca conversou com Mulatu Astatke, por exemplo, outro ressurreto da nossa era. Por cá, há coisa de 10 anos, quando lhe perguntei se ‘Yekermo Sew’, o seu tema mais popular, era uma versão de ‘Song for my Father’, de Horace Silver, o compositor etíope riu-se e respondeu assim: “Mas todo o jazz não é já africano? Eu limitei-me a adaptá-lo às nossas cinco notas e a um dos nossos quatro modos. Sabe, aquilo que lhe parece um ritmo latino, nessa música, vem na realidade do sul da Etiópia. Vá até lá que ouve mambo, chachachá… Até bossa nova. Além das escalas que o Charlie Parker usou no bebop. Se reparar bem, mesmo um compositor como Debussy recorreu à escala diminuta da música copta, muito usada por tribos etíopes.” Bom, estes seus vizinhos não diriam tanto. Mas é verdade que pegam num elemento do jazz e da soul aqui, noutro do funk acolá, e os vão torcendo aos poucos e entrelaçando uns nos outros até deles fazerem um ninho – ao jeito das cegonhas. Praticamente heresia, no Sudão atual! Nem que fosse apenas por isso, já valia a pena ouvi-los.

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