Em capas de discos, e em materiais de promoção, Alexandre
Tharaud costuma aparecer de braços abertos – ainda há pouco, em “Versailles”, esticava-os
mais que Ronaldo “Fenómeno” ao festejar um golo. Era como se quisesse
simbolizar tudo aquilo que subitamente conseguia abarcar, numa incursão pelo
barroco de perder a cabeça que começava na corte de Luís XIV, passava pela de
Luís XV e terminava na de Luís XVI. Tocava Rameau, De Visée, Royer,
D’Anglebert, Duphly, Balbastre e François Couperin, mas, no fundo,
comportava-se como Charlize Theron naquele anúncio da Dior, quando, em plena
Galeria dos Espelhos, em Versalhes, ela diz: “O passado pode ser belo: uma
memória, um sonho. Mas não é lugar para se viver. É hora de seguir em frente!”
Foi
exatamente o que Tharaud tentou fazer – em “Piano Concertos” – com três
primeiras gravações de obras de que é dedicatário: “Left, Alone”, de Hans
Abrahamsen (com a Filarmónica de Roterdão e Yannick Nézet-Séguin), “Future is a
Faded Song”, de Gérard Pesson (com a Sinfónica da Rádio de Frankfurt e Tito
Ceccherini), e “Kuleshov”, de Oscar Strasnoy (com Les Violons du Roy e Mathieu
Lussier), gente prontíssima a trocar-lhe as voltas, como é óbvio. Talvez por
isso, então, seja agora fotografado em poses que trazem à memória o David Bowie
de “Heroes” e o Iggy Pop de “The Idiot”, quando, nas capas desses seus
respetivos álbuns, se puseram a recriar “Roquairol”, um quadro de Erich Heckel
que, por sua vez, se diria inspirado pela personagem homónima de “Titã”, do
escritor Jean Paul: aquela, que, exposta a tudo quanto havia para ver e ler,
acreditava que a vida não era mais que uma sucessiva citação de obras de arte. Muito
pouco canónicos, trata-se de concertos em que se dá pelos vestígios do Pessoa
que afirmou: “O futuro, não o conheço. O passado, já não o tenho. Pesa-me um
como a possibilidade de tudo, o outro como a realidade de nada.” Ou, como disse
T. S. Eliot, para o qual aquele título de Pesson aponta: “Que o futuro é uma
canção desvanecida.”
Disso mesmo se ocupa “Complices”, com Queyras e Tharaud mergulhados
nos tons pastel de Kreisler, Vecsey, Fauré ou Saint-Saëns e a lembrar que, por
vezes, escreveu-o também Eliot, “o caminho para a frente é o caminho para
trás.”
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