Não fosse, confesso, a própria Soul Jazz (que, em
2016, incluiu um par de temas de Haruna Ishola & His Apala Group em “Nigeria
Freedom Sounds! Popular Music & The Birth of Independent Nigeria, 1960-1963
”), e o mais perto que estava de encontrar a palavra Apala entre os discos na
prateleira era em ‘Apalachicola, Fla.’, nas vozes de Bing Crosby e das Andrews
Sisters – o que, à primeira vista, não terá rigorosamente nada que ver com esta
história. “We're full of glee/ My buddies and me/ We're happy all day through// Black girls and boys/
Are so full of joys/ And that's why we say to you/ We're on our way/ To
Apalachicola, Fla”, diziam eles, efetivamente, no distantíssimo 1947. Mas, na
verdade, vá-se lá saber quantos desses “black
girls and boys”, da canção, não descendiam diretamente de gente oriunda do
Golfo da Guiné – apesar de essa condição não ter perdurado, o decreto de
Carlos, o Enfeitiçado, a conceder alforria a escravos foragidos das Treze
Colónias Britânicas que se fixassem na Florida e, ao abrigo da coroa espanhola,
se convertessem ao catolicismo, levou à criação de inúmeros quilombos ao longo
do rio Apalachicola.
Também na Nigéria de 1947, quando Ishola formou o seu conjunto,
parecia a música Apala implicar uma rejeição do imperialismo britânico –
recorrendo, sobretudo, a tambores de ampulheta de vários tamanhos, a idiofones
de lamelas e a chocalhos, os seus praticantes nunca se poderiam confundir com
aquela legião de instrumentistas de guitarra elétrica ou saxofone na mão que
ditavam as modas em Lagos com os olhos postos na produção musical a Ocidente.
Talvez por isso nunca tenham conseguido chegar aos mesmos mercados que William
Onyeabor, Lijadu Sisters, Victor Olaiya, Segun Bucknor, Blo, Victor Uwaifo,
Funkees, Ofege, Shina Williams, Tunji Oyelana e tantos outros, que, nas últimas
duas décadas, conseguiram sair da sombra de Fela Kuti – ou, então, foi só,
mesmo, porque os organizadores de compilações na Europa nunca deram por temas
como ‘Apala Jazz Disco’ (1982), de Fatai Ayilara. Aqui, entre homens e mulheres
como Ishola [na foto], Adebukonla Ajao, Rapheal Ajide, R. A. Tikalosoro,
Adeleke Aremu, Kasumu Adio e Ayisatu Alabi, num alinhamento em que se dá,
apenas, pela falta de Ayinla Omowura, resgata-se ao esquecimento quem, em plena
Guerra do Biafra, através de cantos melismáticos em ritmo livre, se dedicava à preservação,
proteção e promoção de um arcano conjunto de poderes que, como um amuleto, em
cerimónias islâmicas que vão de partos e batizados a casamentos, aniversários e
funerais, servia de amparo para a vida inteira.
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