Rigor a sério, só em “Chopin: Um Inventário”, de
Jorge de Sena: “Quase sessenta mazurcas/ Cerca de trinta estudos/ Duas dúzias
de prelúdios/ Uma vintena de noturnos/ Umas quinze valsas/ Mais de uma dúzia de
‘polonaises’/ ‘Scherzos’, improvisos, e baladas, quatro de cada/ Três sonatas
para piano/ E dois concertos para piano e orquestra”. E largas centenas de
gravações, apetece dizer, tão certa de penetrar no âmago do polaco, cada, que,
se prestarmos bem atenção, nos pianíssimos, até os gatinhos que no seu brônquio
se punham a miar quando respirava se ouvem. Aqui, novas interpretações dos
concertos, uma de Benjamin Grosvenor, outra de Yundi, aplicam tratamentos
diversos – o primeiro chega a pegar no estetoscópio (uma invenção recente, para
1830), o segundo fica-se pela homeopatia.
Isto é, possui o britânico uma curiosidade anatómica pela energia vital de cada concerto, conquanto tenha pouco mais que laxantes ao seu dispor, e recorre o chinês ao memorioso poder – embora quimicamente inerte – da água destilada. Não admira que assim seja, quando tem um a seu lado uma maestrina como Elim Chan – e raramente é injetado tanto contraste nas veias destes concertos, quanto agora – e o outro nada mais que o seu próprio espectro de há vinte anos atrás, quando, em 2000, com esta mesma orquestra, venceu o Concurso Internacional de Piano Frédéric Chopin. Curiosamente têm ambos muitíssimo a seu favor: Grosvenor numa extroversão algo incontinente, tão da nossa era; Yundi capaz de evocar o stile brillante então em voga (de modo mais convincente no segundo concerto), tecendo delicadas filigranas, contraponto a contraponto. Como é óbvio, o Chopin a sério será qualquer coisa de intermédio.
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