Nasceu em 1959, emigrou, com a família, de Moscovo
para Nova Iorque em 1979, mudou-se para Colónia em 1989, gravou os seus mais
consistentes discos em 1999 (“Sneak Preview”, “Nature Morte” e “The Master and
Margarita), e outros três em 2009 – enfim, nessa medida, a carreira de Nabatov
é uma espécie de sonho molhado da numerologia. Não admira, então, que “Plain”,
a cobertura de açúcar para o seu mil-folhas fonográfico, tenha sido captado em
2019, pese embora a ambição do pianista em produzir algo “simples, claro e
inteligível” (diz ele, em notas de apresentação). Mesmo a versão que, aqui, faz
de ‘House Party Starting’, de Herbie Nichols, se revela algo antitética: “Sem ornatos
nem enfeites, muito serena”, explica – uma festa que vai começando, mas que nunca
arranca verdadeiramente. Esclarecimento que, por sinal, traz à ideia as
palavras de A. B. Spellman, em “Four Lives in the Bebop Business”, acerca do
tema, precisamente: “Uma melodia adorável e nada complicada, que Herbie repete com
subtilíssimos cambiantes de andamento e cor – a atenção de quem escuta focada nas
variegadas reiterações dessa sua ideia inicial.” Com Nichols, e não só, Nabatov
aprendeu a pegar com pinças em formas canónicas, a levá-las ao limite não tanto
pela quantidade de material ilícito que lhes foi introduzindo no âmago mas,
sim, por transformar o que de mais subversivo possuía em criações tão
universais que se diria adaptarem-se instantaneamente às estruturas mais
rígidas. Em ‘Cry From Hell’, por exemplo, peças soltas, desajuntadas, coalescem
inesperadamente num corpo desenvolto, ou convulsivamente num choro, para ser
exato: piano, clarinete (Chris Speed), trompete (Herb Robertson), contrabaixo
(John Hébert) e bateria (Tom Rainey) a dividir mesa na Confeitaria Colombo com
Chiquinha Gonzaga e Villa-Lobos, não obstante o que tocam soar mais a ‘Conversa
de Botequim’, de Noel Rosa, o Rio com um pé fora da Belle Époque. Em ‘Ramblin’
On’, Robertson guturaliza um texto que coincide parcialmente com um verso de
Eliot, que diz: “Para a maior parte de nós, apenas há o momento/ Isolado, o
momento dentro e fora do tempo.” Para Simon, não. É simples.
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