24 de outubro de 2020

“La Locura de Machuca, 1975-1980” (Analog Africa, 2020)

Aqui, há títulos de Samba Negra, Rio Latino ou La Banda Africana, o que não ajuda a situar a ação. Aliás, põe-se a compilação a tocar, com ‘Eberebijara’, e o mais estranho de tudo é não se ouvir Jorge Ben a cantar “Umbabarauma, homem gol”, o que, pelo menos, até batia certo com aquele 1975. Portanto, não estamos no Brasil, embora, a certa altura, alguém afirme: “Eu falo português” (é em ‘Le Mongui’, um tema que revela o parentesco entre ‘Soul Makossa’, de Manu Dibango, e ‘Wanna Be Startin’ Somethin’’, de Michael Jackson, mas que não nos facilita a vida). A propósito, vindos não se sabe de onde, aterram neste alinhamento os Viajeros Siderales, com ‘El Compañero’, que é um baião – ou melhor, baion (só falta a Amália, de ‘El negro zumbón’: “Tengo ganas de bailar el nuevo cumpás/ Dicen todos cuando me ven pasar/ Chica, dónde vas?’/ Me voy a bailar, el baion!”). Como é óbvio, estamos na Colômbia – para ser exato, entre as barracas de Barranquilha, a que a cangonha e a coca não chegavam pelo cano, mas quase, e onde a música era absorvida diretamente pelos poros. É normal – os bairros da lata eram laboratórios a céu aberto, quer com o passado, quer com o futuro, por inventar, e da canção, entre a matinée e a soirée, não se esperava que tivesse muito mais que o tempo de vida útil de uma célula. Era por aí, em prospeção, que andava Rafael Machuca, atento ao que se dançava nos bailes e ao que se dizia nas ruas. Quando fundou a Producciones Machuca Ltda., à exceção de Aníbal Velásquez e Abelardo Carbonó, que tinham nome firmado, lançou sobretudo bandas cuja formação foi estimulada por si – um modo de reagir mais rapidamente a porros, cumbias, vallenatos e champetas editados pela concorrência (para descrever o que daí resultava, o seu engenheiro de som, Eduardo Dávila, chamava-lhes “os filmes Série-B da música colombiana”). Por exemplo, ‘El Tornillito’, do El Grupo Folclórico, respondia a ‘Suavecito, Apretaíto’, dos Latin Brothers, na Discos Fuentes – e ainda que o “Dale pa’dentro/ Dale pa’fuera”, do refrão, tenha antecipado os Ena Pá 2000 numa boa dúzia de anos, tinham o mesmo número de parafusos a menos!

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