4 de janeiro de 2014

Dvorák: Cello Concertos (Hyperion, 2013) + Elgar: Cello Concerto (Harmonia Mundi, 2013)



Par de etapas fundamental na emancipação de qualquer violoncelista – Casals, Fournier, Du Pré, Maisky, Webber ou Yo-Yo Ma que o digam –, o concerto em si menor, de Dvorák, e o concerto em mi menor, de Elgar, coincidem nos respetivos fins ao recorrerem a pungentes e meditativas codas que, como um limite para a racionalidade, praticamente requerem aos seus intérpretes que nelas partam à deriva, ao invés de que as comandem. É um dispositivo que – no caso do checo, por contraste – os torna imensos e, de certa forma, percursores de uma tendência que, mais tarde, Valentin Silvestrov assim sintetizou: “Com a nossa crescente consciencialização artística, menos textos poderão efetivamente começar pelo princípio. Isto não significa o fim da música enquanto arte mas, antes, um fim em que se pode ir demorando – é no domínio da coda que a vida se torna infinita”. Isserlis e Queyras pouco se assemelham, mas possuem em comum um invulgar talento em vaguear pela ambiguidade mantendo uma cuidada deliberação em cada gesto e uma aguda perceção do espaço envolvente. Dir-se-iam um espelho: com interessantes complementos aos programas centrais, o britânico tempera a catarse e o canadiano arrebata-se num exercício de contenção. Conforme exigem as peças, flutuam ambos sobre o destino.

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