11 de janeiro de 2014

Elliott Sharp Aggregat “Quintet” (Clean Feed, 2013)



Com mais vontade do que acerto, escreveu um dia Torquato Neto: “Há várias maneiras de se cantar e fazer música: Gilberto Gil prefere todas”. O vaticínio, que, presume-se, admitia mentalmente a hipótese de vir o baiano a perfilhar uma carreira punida pela inconsistência, ganhou eco numa declaração de Butch Morris, proferida já, esta sim, no contexto de uma apresentação do percurso de Elliott Sharp, quando, em “Doing the Don’t”, ajuizava o maestro ao realizador Bert Shapiro: “[Na música de Sharp] Vão ouvir algo que nunca ouviram na vida e que, seja ou não do vosso agrado, de algum modo os vai inspirar”. Pela mesma razão encontra-se tanto de espúrio na discografia do guitarrista nova-iorquino. Porque à ambição de marcar a história do jazz moderno, por exemplo – o que, imagine-se, lhe garantiria a posição imediatamente anterior à de Sonny Sharrock no “Penguin Guide to Jazz”, caso, lá está, lhe tivessem consistentemente reservado entrada os autores da enciclopédia –, sobrepôs-se o desejo de documentar o inclassificável. O ano de 2013 provou-o, com “Momentum Anomaly” compendiando solos acústicos, “Haptikon” testemunhando um interesse pela inteligência artificial, “Crossing the Waters” assinalando o batismo de um novo trio, “In The Pelagic Zone” reunindo obras de câmara e o DVD “Ostryepolya” registando duetos com Scott Fields. Mas é neste “Quintet” – em que, a favor dos sopros, renuncia integralmente à guitarra, aliando-se a Nate Wooley, Terry Green, Brad Jones e Ches Smith – que coloca do lado certo aquilo que adora pôr do avesso. Ou seja, o mais atípico dos seus discos é o mais imediato e indispensável dos que já fez na vida.

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