Num momento em que a edição
fonográfica parece subordinada a uma complicada agenda de acordos
multilaterais, a ligação de Mario Pavone à Playscape é praticamente arcaica.
Mas uma que não convém subestimar, ou não tratasse de corroborar algo de elementar
na ação do septuagenário contrabaixista: fidelidade. Aliás, amiúde referida
para confirmar a validade da tese – mais do que a das Bodas de Ouro com a sua
mulher Mary –, a história de como abdicou de uma carreira estável vem a lume sempre
que se discute a sua música. Em 2002, numa entrevista ao “All About Jazz”, contou-a
como quem relata uma epifania: “Licenciei-me pela Universidade de Connecticut em
Engenharia Industrial e empreguei-me em grandes empresas. Até que, em julho de
1967, ouvi a notícia da morte de John Coltrane. [No dia 21] Levantei-me, deixei
a pasta em cima da secretária e meti-me no carro em direção a Nova Iorque para assistir
ao seu funeral, sabendo que nunca mais voltaria ao escritório.” O gesto é
exemplificativo de um espírito gregário, subitamente implicado na pouco
documentada atividade da Orchestra of the Streets, liderada por Bill Dixon, ou
nas iniciativas de uma organização como a Creative Musicians Improvisers Forum,
na qual militou ao lado de Leo Smith ou Gerry Hemingway. Não será, por isso, de
estranhar que, ao apresentar esta combustiva sessão gravada ao vivo no Cornelia
Street Café com Craig Taborn ao piano e Gerald Cleaver na bateria, sublinhe a
influência que em si exerceram discos em trio como “The Floater”, de Paul Bley,
“Smokestack”, de Andrew Hill, ou “Three Waves”, de Steve Kuhn, feitos, como
este, de formas assimétricas, ritmos enigmáticos, melodias lacónicas,
composições essenciais.
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