Jeremy Denk
András Schiff
Aqui, mais assustador que o vulto
da simultaneidade só o da abreviação. Culpe-se Glenn Gould, que, embora adiantado,
logo à primeira preconizou umas Goldberg para a era do Twitter. Porque nada
justifica que se disponibilizem estas variações avulso em lojas digitais. De
que serve, na formulação de Landowska, possuir a “pérola negra” de Bach –
variação nº25 – se não para entendê-la, conforme caracterização de Denk, como “um
oásis de tristeza num vasto deserto de felicidade”? E como absorver o impacto
da vigésima das Diabelli, e a inquietação que deriva dessa insólita progressão
harmónica, senão pelo confronto com o formalismo que a precede? Não espantará que
um dia venha alguém pintar os “Concertos de Brandeburgo” à luz da biografia de
Karlheinz Brandenburg, teórico do MP3. É que nesta música acerca de música a
conjuntura é tudo. E Denk, nessa medida, é restaurativo. Aliás, em tempos
recentes só Angela Hewitt possuiu aproximada visão das Goldberg: reflexiva e
labiríntica, modular e cumulativa, solilóquio sobre o que há de conciliável no
mundo. Também em Schiff se revela o contexto decisivo: prova-lo o cinismo com que,
justapondo duas interpretações das Diabelli, deixa para a segunda, num
pianoforte de 1820, o verdadeiro exercício de fricção e, de certa forma,
gravitação que a obra exige. Duas lições.
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