Antes de mais, uma correção: ‘African
Jazz Mokili Mobimba’ e ‘Miwela Miwela’, duas canções de 1962, a primeira das
quais inconfundível e particularmente emblemática, estão nesta antologia gráfica
e fonograficamente dispostas por ordem inversa. Trata-se de um pequeno descuido
que em nada compromete o que, de outra forma, se entende por irrepreensível. Aliás,
impecavelmente subintitulada enquanto “Joseph Kabasele and the Creation of Modern Congolese Music”, esta coletânea de 38 temas gravados entre 1951 e 1970,
que inclui dez inéditos em CD e uma monografia de 104 páginas, em inglês e
francês, consagrada a esse a quem chamavam “Le Grand Kallé”, vem não só emendar
uma desatenção histórica como, também, apresentar de modo finalmente organizado
o alvor discográfico da estelar African Jazz, pioneiro engenho que os livros
recordam como a charanga de serviço no coreto da independência congolesa – relembre-se
‘Indépendance Cha Cha’, de 1960, praticamente composto à mesa das negociações no Hotel Plaza, em Bruxelas – e cujo novelo das idas a estúdio ficou ao longo dos
anos irremediavelmente emaranhado por inúmeras compilações governadas pela aleatoriedade. Assim, e de uma assentada, contraria-se aquilo que, no que a
esta música diz respeito, anda muitas vezes de mão dada: o desprezo editorial
pelos arquivos e a mania que os curadores têm de escolher os caminhos mais
arrevesados. Aqui, como numa parábola, vai-se desfiando coerentemente a meada narrativa
a que se agarrou o bolor da colonização, da superstição e das oportunidades perdidas
até se encontrar o resíduo em que originalmente se teceu o pano da emancipação política,
do desassombro espiritual e da esperança, matéria-prima para um mundo que, de
facto, nunca chegou.
A Orchestre African Jazz em Bruxelas, 1960; atrás, da esq. para a dta: Pierrot Yantula, Nico Kasanda,
Armando Brazzos e Dechaud Mwamba; na frente, da esq. para a dta: Vicky Longomba, Roger Izeidi e Joseph Kabasele
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