De forma a exaltar a paróquia, e
para contrariar o rifão dos ventos e dos casamentos, diga-se que nesta
compilação, vinda de Espanha e em nada anestesiada pela diplomacia, sobressai ‘Haz
el mono’, dos portuguesíssimos Os Duques, de Johnny Galvão, variedade
peninsular do quadrúmano que Bobby Darin e Rudy Clark celebraram em ‘Do the Monkey’. A propósito, outras ligações se estabelecem entre o que aí se passa e aquilo
que do lado de cá da fronteira, na mesma altura, se esboçava: nomeadamente quando
se mascara com ironia o provincianismo. Por isso se tropeça em façanhas equivalentes
às de Os Tártaros de ‘Ó Rosa Arredonda a Saia’ ou do Conjunto Mistério de
‘Alecrim’, que abriam a porta ao lobo a pretexto de o domesticar. Aliás, o
árbitro desta antologia, Miguel Aranega – bem como o seu par de auxiliares,
Vicente Fabuel e Ximo Bonet –, não se cansa de sugerir que a aparente
facilidade com que, em termos ibéricos, se dissipou a neblina de insurreição
que acompanhava o rock, remetendo-o para a inócua categoria do folclore, deu
azo às mais desviantes reconfigurações na sua constituição futura. Ou seja, se
não fosse necessário iludir a tirania domiciliária do conservadorismo, teria aqui havido rock, surf, twist, o diabo a quatro, sim, mas jamais se sentiria o
perfume da extraconjugalidade nestas músicas. De facto, há de tudo, do absurdamente
humorístico – ‘Twist de los elefantes’ – ao enviesadamente heurístico – ‘No
sabes bailar’ – passando pelo estritamente exótico: ‘Kana Kapila’, ‘Ali Baba
Twist’, ‘Shadrack’, ‘Shu bi du bi do slop’, exercícios de gramática reduzida
numa língua cifrada que todos souberam entender.
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