22 de fevereiro de 2014

“Pippermint Twist: Rockin’ Twist, Instrumentals, Exotica and Other Sounds from Spain 1958-1966” (Munster, 2013)



De forma a exaltar a paróquia, e para contrariar o rifão dos ventos e dos casamentos, diga-se que nesta compilação, vinda de Espanha e em nada anestesiada pela diplomacia, sobressai ‘Haz el mono’, dos portuguesíssimos Os Duques, de Johnny Galvão, variedade peninsular do quadrúmano que Bobby Darin e Rudy Clark celebraram em ‘Do the Monkey’. A propósito, outras ligações se estabelecem entre o que aí se passa e aquilo que do lado de cá da fronteira, na mesma altura, se esboçava: nomeadamente quando se mascara com ironia o provincianismo. Por isso se tropeça em façanhas equivalentes às de Os Tártaros de ‘Ó Rosa Arredonda a Saia’ ou do Conjunto Mistério de ‘Alecrim’, que abriam a porta ao lobo a pretexto de o domesticar. Aliás, o árbitro desta antologia, Miguel Aranega – bem como o seu par de auxiliares, Vicente Fabuel e Ximo Bonet –, não se cansa de sugerir que a aparente facilidade com que, em termos ibéricos, se dissipou a neblina de insurreição que acompanhava o rock, remetendo-o para a inócua categoria do folclore, deu azo às mais desviantes reconfigurações na sua constituição futura. Ou seja, se não fosse necessário iludir a tirania domiciliária do conservadorismo, teria aqui havido rock, surf, twist, o diabo a quatro, sim, mas jamais se sentiria o perfume da extraconjugalidade nestas músicas. De facto, há de tudo, do absurdamente humorístico – ‘Twist de los elefantes’ – ao enviesadamente heurístico – ‘No sabes bailar’ – passando pelo estritamente exótico: ‘Kana Kapila’, ‘Ali Baba Twist’, ‘Shadrack’, ‘Shu bi du bi do slop’, exercícios de gramática reduzida numa língua cifrada que todos souberam entender.

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