Assemelha-se a uma adenda, mas a
verdade é que perderia o recital consistência se não fosse apendiceado por
“Rain Tree Sketch”, esquisso de Toru Takemitsu (1930-1996) só aparentemente miniatural.
Trata-se da mais curta e recente de quantas obras Kodama aqui agrupa mas, não
se podendo afirmar que não leia do mesmo breviário das outras, é a que confere
significado a este resíduo de formalismo: evocações da natureza de dois
compositores franceses filtradas pela sensibilidade japonesa. Assim, dir-se-á
que ao espelhar a ação do seu compatriota a pianista logo tranquiliza o
ouvinte: não, inversamente ao que muitas vezes sobrevém nestas programáticas
construções, o solista não vai lutar contra uma espécie de veladura. Isso
apesar de “Miroirs”, de Maurice Ravel (1875-1935), e “La fauvette des jardins”,
de Olivier Messiaen (1908-1992),
possuírem insólitas figuras axiais e estruturas de enigmática descontinuidade
em que tudo – embora tanto as distinga e quase oito décadas as separem – parece
acontecer num estado de ficção. Mas levantam uma questão comum: tratam ou não
de exclusivamente representar o conhecimento humano do mundo natural? Uma das
maneiras de encontrar resposta será discriminar qual delas mais resiste ao
carinho, mas é óbvio que, sob essa perspetiva, tudo esclareceu Ravel quando deu
o título de “Oiseaux tristes” à segunda peça da sua suíte. Já Messiaen mais se
acercou da alteração do paradigma nesta dedicação à felosa-das-figueiras, não
obstante a engaiolar num número limitado de iterações e de a circunscrever à
experiência do êxtase. Kodama, ao invés, refreia-a, e aproxima-se do poema de
cummings que diz: “Antes quero aprender com um só pássaro a cantar/ que ensinardez mil estrelas a dançar mal.”
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