8 de fevereiro de 2014

Momo Kodama: La Vallée des Cloches (ECM, 2013)



Assemelha-se a uma adenda, mas a verdade é que perderia o recital consistência se não fosse apendiceado por “Rain Tree Sketch”, esquisso de Toru Takemitsu (1930-1996) só aparentemente miniatural. Trata-se da mais curta e recente de quantas obras Kodama aqui agrupa mas, não se podendo afirmar que não leia do mesmo breviário das outras, é a que confere significado a este resíduo de formalismo: evocações da natureza de dois compositores franceses filtradas pela sensibilidade japonesa. Assim, dir-se-á que ao espelhar a ação do seu compatriota a pianista logo tranquiliza o ouvinte: não, inversamente ao que muitas vezes sobrevém nestas programáticas construções, o solista não vai lutar contra uma espécie de veladura. Isso apesar de “Miroirs”, de Maurice Ravel (1875-1935), e “La fauvette des jardins”, de Olivier Messiaen (1908-1992), possuírem insólitas figuras axiais e estruturas de enigmática descontinuidade em que tudo – embora tanto as distinga e quase oito décadas as separem – parece acontecer num estado de ficção. Mas levantam uma questão comum: tratam ou não de exclusivamente representar o conhecimento humano do mundo natural? Uma das maneiras de encontrar resposta será discriminar qual delas mais resiste ao carinho, mas é óbvio que, sob essa perspetiva, tudo esclareceu Ravel quando deu o título de “Oiseaux tristes” à segunda peça da sua suíte. Já Messiaen mais se acercou da alteração do paradigma nesta dedicação à felosa-das-figueiras, não obstante a engaiolar num número limitado de iterações e de a circunscrever à experiência do êxtase. Kodama, ao invés, refreia-a, e aproxima-se do poema de cummings que diz: “Antes quero aprender com um só pássaro a cantar/ que ensinardez mil estrelas a dançar mal.”

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