Há coisa de um ano, preso a uma
cama do Hôpital Principal de Dakar, Mar Seck falava para o gravador do grego
Adamantios Kafetzis – o agente por detrás da Teranga Beat – e, naturalmente, a
par de tudo aquilo que viveu, e de um apropriadíssimo prenome, consigo estava o
hálito das oportunidades perdidas: “Pape Seck, que foi como um irmão mais
velho”, dizia, “quis levar-me para os Africando, mas adoeci e no meu lugar
seguiu o Medoune [Diallo, vocalista da Orchestra Baobab].” De facto, dir-se-ia
desenhado à medida do seu cândido tenor esse projeto que desde 1993 arrosta a
aura atlântica. Ouça-se, aliás, “Viva Africando”, editado em setembro pela
Sterns, para se verificar a firmeza dessa, passe a contradição, vaporosa
estética crioula de que Mar Seck comungou. É o que perfila este “Vagabonde”,
agora reunindo material do cantor e compositor, quase todo inédito, cuja
transitoriedade acabou por espelhar o ideário da modernidade senegalesa. Não
deixa de ser terrivelmente poético que pela maior parte dos temas da compilação,
novamente masterizados, sopre um inquietante silvo digital, o som próprio da
negligência fonográfica: resgatados a sessões radiofónicas de 1969 com os Super
Cap-Vert, trata-se de sete testemunhos praticamente arcaicos, face ao iminente
programa cultural da négritude, arrastados,
então, pela perfumada corrente que, via rumba congolesa, chegava ainda das
Antilhas, e que aqui se cruzava com dolentes eflúvios cabo-verdianos. Já de
acordo com o plano oficial, um trio de canções de 1973 com a Star Band de Dakar
e um par extraído a uma atuação de 1980 com a Number One de Dakar não anuviam o
que tudo deve à quimera. Essencial.
Sem comentários:
Enviar um comentário