Reunidos pelo acaso ou por uma
inexplicável afeição, os temas coligidos neste segundo volume de “Angola Soundtrack” não sugerem o tal mundo de “hipnose, distorção e outras inovações” proposto
em subtítulo. Nem formam a banda-sonora exata de um período particularmente pletórico em que é fácil permitir-se que prevaleça o fortuito sobre o
histórico. Isto porque, retomando a desdourada estratégia de 2010 – promulgada em
“The Unique Sound of Luanda 1968-1976”
– a compilação surge afetada por uma presunçosa curadoria que labora frequentemente
no sentido contrário ao da verdade dos factos, sem com isso gerar mais-valia
estética. Tome-se por exemplo o espaço alocado a instrumentais: quem ouça ‘Avante
Juventude’, dos Anjos, ou ‘Bina’, dos Jovens do Prenda, a par de similares contribuições
de Kiezos, África Ritmos, Águias Reais, África Show e Dimba Diangola, será
levado a tomar a exceção pela regra. Para não falar da perversa omissão de
cantoras, como se a narrativa de produção cultural e nacionalismo angolano que
se pretende retratar não tivesse dependido também de figuras como Lourdes Van Dunem,
Dina Santos, Belita Palma, Lilly Tchiumba, Alba Clington, Garda ou Tchinina – incompreensível
face a uma lógica de autodefesa que justifica a inclusão dos obscuros Quim
Manuel, Muhongo, Cisco ou Kito, e que ampara ensaios menores de Urbano de
Castro ou Elias Diá Kimuezo. Depois dá-se o caso de quase metade da coletânea
repetir material na última dúzia de anos publicado em antologias como “Soul of Angola”,
“Angola Saudade” ou “Angola: As 100 Grandes Canções dos Anos 60 e 70”. Paradoxalmente,
o melhor que possui é aquilo em que se tem de tocar: o livreto com entrevistas, recortes e fotos de época.
Sem comentários:
Enviar um comentário