22 de março de 2014

Abdullah Ibrahim “African Piano” (ECM, 2014) & Sam Rivers “Contrasts” (ECM, 2014)



 
O mais provável seria que nas editoras decrescesse o incentivo para relançar fisicamente material de arquivo à medida que fosse ganhando tração a distribuição digital. Mas a verdade é que não se extinguiu por inteiro o prestígio associado à propriedade. Arrancam-se assim às profundezas dos catálogos os mais obscuros artefactos, o que, além de edificação patrimonial, permite questionar o cânone. De uma assentada, é agora a ECM a devolver sete títulos aos escaparates: “Seven Songs for Quartet and Chamber Orchestra” (1974), de Gary Burton, um homónimo ensaio do Miroslav Vitous Group, de 1980, “Five Years Later” (1982), de John Abercrombie e Ralph Towner, dois insólitos postulados de Keith Jarrett – o orquestral “Arbour Zena” (1976) e o vicarial “Ritual” (1977) – e outro par de registos mais recomendáveis. De “African Piano” (1973) transparece que não estava o seu autor minimamente interessado em problematizar as suas origens; a sessão, a solo, perfumada com um buquê de melodias, subordinava ao êxtase a experiência de existir e evocava uma especificidade que iludia os seus ouvintes: a do jazz sul-africano. Já “Contrasts” (1980) obedecia a uma construção mais complexa, com elementos continuamente transfigurados por Rivers, George Lewis, Dave Holland e Thurman Baker, e nada possuía de profético, pese embora só hoje se entender o que tinha de puritano, rigoroso e terno.

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