Aos 74 anos, como aqui, pode Joe McPhee encontrar conforto no regaço daqueles que iludem a criação mais diomática que, nem assim, se despega da sua música a sombra da restituição.
Dir-se-ia um dignitário de qualquer coisa a que foi extraída a parte essencial
– isso que, no fundo, um instrumentista quase sempre deseja edificar no âmago
da sua carreira como testemunho da sua autoridade e que, muitas vezes, ganha forma
numa discografia proporcional ao seu real valor. Porque, não obstante a crescente
popularidade dos álbuns que lançou na sua primeira década enquanto titular, e,
claro está, a inexcedível qualidade de uma mão cheia de entre eles, falta-lhe,
por exemplo, o carisma de uma passagem pela Impulse, ao jeito de Archie Shepp
ou Pharoah Sanders, ou, para lembrar outros nómadas da vanguarda, estes
entretanto falecidos, ter, à semelhança de Don Cherry ou Sam Rivers, exercido
magistério numa Blue Note para que não fosse tão difícil de situar a sua obra. Termina
assim 2013 e uma chusma de títulos compõe um catálogo apátrida e
cronologicamente amotinado: a Corbett vs. Dempsey eleva “Nation Time”, LP de
1971 de reduzida tiragem, a um centro de mesa composto por quatro CD; a
Bo’Weavil socorre-se de um marceneiro para esculpir num caixotão para vinil esse mesmo registo e outros três: “Underground Railroad”, “Trinity” e “Pieces of Light”; a Clean Feed grava-o a solo e acompanhado pelo trio Trespass; Ken
Vandermark convoca-o para o homenagear em “Impressions of PO Music”, na Okka Disk; e, entre mais seis (6!) edições, surge esta, que soa a uma ecológica celebração
de um entendimento prévio: Parker e McPhee o meio ambiente um do outro, a cada
sopro evitando a platitude.
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