Nikolai Lugansky
(p), Deutsches Symphonie-Orchester Berlin, Kent Nagano (d)
Singular emparelhamento, este, que
não se expõe inteiramente à trivialidade, embora, à primeira vista, nada traga
de novo. Afinal, o “Concerto para Piano em Lá menor, Op. 16”, de Grieg, e o
“Concerto para Piano nº3 em Dó maior, Op. 26”, de Prokofiev, bastiões do
repertório, não obstante, à luz do seu caráter, servirem propósitos raramente
coincidentes, são aqui jungidos por um curioso aditamento: o que os toma por qualquer
coisa como um enlevo estival, temperado pelas cores do exílio e seduzido por
uma vida de extrema simplicidade, que é, com frequência, uma aguarela de
espíritos pouco habituados ao sul e que ignoram a reduzida santidade que de
facto há na vida do campo. E claro que, não se tendo dilatado dramaticamente a
latitude em ambos os casos, muito mais que isso os separa. Mas, regressando a
esse veraneio, que ainda assim possui algo de punitivo, a verdade é que tanto o
norueguês iludiu os fiordes para, em 1868, numa vila piscatória da ilha
dinamarquesa da Zelândia, ao abrigo de uma enseada, “tudo esquecendo à sua
volta” (paradoxo descrito numa carta do período), se dedicar a esta obra,
quanto o russo, porventura levando a banhos a fadiga do peripatetismo, elegeu a
balnear Saint-Brevin-les-Pins, na Bretanha, para em 1921 completar na foz do
Loire o que há dez anos guardava em esboços embolorados. Para sublinhar o que
aqui persiste de inexplicável, e conquanto as conheça de trás para a frente, Lugansky
receia a total intimidade com estas páginas; Nagano, seu primoroso cúmplice, acentua-lhes
matizes que só quem esquadrinha recordações alheias descortina. É assim tão
sentimental e memorialista.
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