1 de março de 2014

Grieg & Prokofiev: Piano Concertos (Naïve, 2013)




Nikolai Lugansky (p), Deutsches Symphonie-Orchester Berlin, Kent Nagano (d)

Singular emparelhamento, este, que não se expõe inteiramente à trivialidade, embora, à primeira vista, nada traga de novo. Afinal, o “Concerto para Piano em Lá menor, Op. 16”, de Grieg, e o “Concerto para Piano nº3 em Dó maior, Op. 26”, de Prokofiev, bastiões do repertório, não obstante, à luz do seu caráter, servirem propósitos raramente coincidentes, são aqui jungidos por um curioso aditamento: o que os toma por qualquer coisa como um enlevo estival, temperado pelas cores do exílio e seduzido por uma vida de extrema simplicidade, que é, com frequência, uma aguarela de espíritos pouco habituados ao sul e que ignoram a reduzida santidade que de facto há na vida do campo. E claro que, não se tendo dilatado dramaticamente a latitude em ambos os casos, muito mais que isso os separa. Mas, regressando a esse veraneio, que ainda assim possui algo de punitivo, a verdade é que tanto o norueguês iludiu os fiordes para, em 1868, numa vila piscatória da ilha dinamarquesa da Zelândia, ao abrigo de uma enseada, “tudo esquecendo à sua volta” (paradoxo descrito numa carta do período), se dedicar a esta obra, quanto o russo, porventura levando a banhos a fadiga do peripatetismo, elegeu a balnear Saint-Brevin-les-Pins, na Bretanha, para em 1921 completar na foz do Loire o que há dez anos guardava em esboços embolorados. Para sublinhar o que aqui persiste de inexplicável, e conquanto as conheça de trás para a frente, Lugansky receia a total intimidade com estas páginas; Nagano, seu primoroso cúmplice, acentua-lhes matizes que só quem esquadrinha recordações alheias descortina. É assim tão sentimental e memorialista.

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