8 de março de 2014

John Taylor "In Two Minds" (Cam Jazz, 2014)



Brian Morton, reputado avalista que, nomeadamente através do “Penguin Guide to Jazz”, de que é coautor, há décadas interpreta tudo o que nessa música há de intangível, principia assim a apresentação de “In Two Minds”: “Quanto mais extensamente viaja um inglês pelo estrangeiro, mais vívidas se vão tornando as evocações que faz das delicadas belezas e discretas harmonias do seu país.” Isto é, ainda mais ânglico fica o seu mundo interior. De seguida – o texto inclui-se no livreto deste CD – propõe que possui o seu título algo daquilo que Keats descreveu como “capacidade negativa”, ou seja, a possibilidade de “o homem existir entre incertezas, mistérios, dúvidas”. Curiosamente, uma convicção mantém John Taylor, quando, traçando um plano de intenções na sua própria introdução a esta gravação, sublinha: “Tocar ‘dentro’ do piano, um desporto popular nos dias que correm, está decididamente fora de questão.” Ou seja, não vai o pianista aderir ao que não acha natural apenas por ter receio de parecer intelectualmente incompetente. Há, de novo, qualquer coisa de Keats, aqui; olhando para a “Ambleside Suite” que domina metade do disco, do Keats, quiçá, que passeava pela região dos Lagos, na Cúmbria, admirando vistas ainda frescas nas telas de Turner, por exemplo, e visitando Wordsworth. A associação não é inocente: Taylor é há 20 anos professor no Conservatório de Colónia, cidade pela qual 200 anos antes havia passado Wordsworth numa temporada alemã que lhe despertou saudades de casa. Porventura é disso que fala Morton. E disto que o antigo paisagista ao serviço dos Azimuth faz neste seu terceiro disco a solo para a Cam: pôr a potência da imaginação a par com a da natureza.

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