Brian Morton, reputado avalista
que, nomeadamente através do “Penguin Guide to Jazz”, de que é coautor, há
décadas interpreta tudo o que nessa música há de intangível, principia assim a
apresentação de “In Two Minds”: “Quanto mais extensamente viaja um inglês pelo
estrangeiro, mais vívidas se vão tornando as evocações que faz das delicadas
belezas e discretas harmonias do seu país.” Isto é, ainda mais ânglico fica o
seu mundo interior. De seguida – o texto inclui-se no livreto deste CD – propõe
que possui o seu título algo daquilo que Keats descreveu como “capacidade negativa”, ou seja, a possibilidade de “o homem existir entre incertezas,
mistérios, dúvidas”. Curiosamente, uma convicção mantém John Taylor, quando, traçando
um plano de intenções na sua própria introdução a esta gravação, sublinha: “Tocar
‘dentro’ do piano, um desporto popular nos dias que correm, está decididamente
fora de questão.” Ou seja, não vai o pianista aderir ao que não acha natural
apenas por ter receio de parecer intelectualmente incompetente. Há, de novo,
qualquer coisa de Keats, aqui; olhando para a “Ambleside Suite” que domina
metade do disco, do Keats, quiçá, que passeava pela região dos Lagos, na
Cúmbria, admirando vistas ainda frescas nas telas de Turner, por exemplo, e visitando
Wordsworth. A associação não é inocente: Taylor é há 20 anos professor no
Conservatório de Colónia, cidade pela qual 200 anos antes havia passado
Wordsworth numa temporada alemã que lhe despertou saudades de casa. Porventura
é disso que fala Morton. E disto que o antigo paisagista ao serviço dos Azimuth
faz neste seu terceiro disco a solo para a Cam: pôr a potência da imaginação a
par com a da natureza.
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