29 de março de 2014

Matt Bauder And Day In Pictures “Nightshades” (Clean Feed, 2014)



Há teorias que pegam por contágio. No caso, desde “Day in Pictures” (2010) que, no domínio da crítica, e a propósito do quinteto de Matt Mauder, se fala de uma proveitosa estilização de figuras com pelo menos 50 anos como se nada de estranho houvesse na redução a aspetos decorativos da parte mais equilibrada do modernismo jazzístico da década de 60 ou como se não estivesse a própria música de Bauder, Nate Wooley, Jason Ajemian, Tomas Fujiwara e Angelica Sanchez (entretanto substituída por Kris Davis) repleta de aforismos da estirpe ‘Nova Iorque é Agora’. Nessa perspetiva, recordando-se um punhado de álbuns de uma só editora, “Nightshades” decalcaria algo do que, em 1964, a Blue Note postulou através de “Point of Departure” (Hill), “The Sidewinder” (Morgan), “JuJu” (Shorter), “Destination… Out!” (McLean) ou, já que, com este título, aludiu Bauder à família botânica da batata, “Out to Lunch!” (Dolphy). A ilação, que ninguém parece tirar, é que tal empreitada – como no “Vou-me Embora para Pasárgada”, de Manuel Bandeira, com o verso “[Lá] Tem alcaloide à vontade” inspirado na mesma ordem de plantas – situaria Bauder nas redondezas da alienação, premissa incompatível com o que se qualifica como a ação de um baluarte da vanguarda. Talvez por isso se transforme aqui o popular em esotérico – conferir o contorno etíope de ‘Octavia Minor’ –, revelando-se restritivo o que já foi ilimitável. De facto, é  difícil aceitar que tem cada período da história do jazz de lidar com um conjunto de estéreis convenções. E, no entanto, por nenhum outro motivo tanto estimula a imaginação este “Nightshades”.

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