Há teorias que pegam por contágio.
No caso, desde “Day in Pictures” (2010) que, no domínio da crítica, e a
propósito do quinteto de Matt Mauder, se fala de uma proveitosa estilização de
figuras com pelo menos 50 anos como se nada de estranho houvesse na redução a
aspetos decorativos da parte mais equilibrada do modernismo jazzístico da
década de 60 ou como se não estivesse a própria música de Bauder, Nate Wooley, Jason
Ajemian, Tomas Fujiwara e Angelica Sanchez (entretanto substituída por Kris
Davis) repleta de aforismos da estirpe ‘Nova Iorque é Agora’. Nessa perspetiva,
recordando-se um punhado de álbuns de uma só editora, “Nightshades” decalcaria algo
do que, em 1964, a Blue Note postulou através de “Point of Departure” (Hill), “The
Sidewinder” (Morgan), “JuJu” (Shorter), “Destination… Out!” (McLean) ou, já que,
com este título, aludiu Bauder à família botânica da batata, “Out to Lunch!”
(Dolphy). A ilação, que ninguém parece tirar, é que tal empreitada – como no “Vou-me Embora para Pasárgada”, de Manuel Bandeira, com o verso “[Lá] Tem alcaloide à
vontade” inspirado na mesma ordem de plantas – situaria Bauder nas redondezas
da alienação, premissa incompatível com o que se qualifica como a ação de um
baluarte da vanguarda. Talvez por isso se transforme aqui o popular em esotérico
– conferir o contorno etíope de ‘Octavia Minor’ –, revelando-se restritivo o
que já foi ilimitável. De facto, é difícil aceitar que tem cada período da
história do jazz de lidar com um conjunto de estéreis convenções. E, no
entanto, por nenhum outro motivo tanto estimula a imaginação este “Nightshades”.
Sem comentários:
Enviar um comentário