Yundi chega a Portugal na reta
final de uma digressão de cerca de vinte datas em menos de um mês e, como de
costume, dá-se um tumulto feiral à sua passagem, melhor traduzido em atualizações
de Twitter, Facebook ou Instagram: há selfies
em praças e restaurantes, intermináveis sessões de autógrafos (na banca, após o
concerto, vende-se o CD e t-shirts), presenças VIP em inaugurações de butiques e
em passadeiras vermelhas rumo a galas de toda a espécie, poses de Estado ao
lado de túmidas primeiras-damas e tímidos diplomatas chineses, uma photo-op com Katie Perry ou, por exemplo, a contínua inventariação de uma
coleção de jaquetas que evoca os ‘novos românticos’ via o Michael Jackson da
fase “Bad”/“Dangerous”. Como sempre, também, pouco se fala de música. E, no
caso, da inteligência em combinar a “Fantasia
em Dó maior, Op. 17”, de Schumann (escrita com Beethoven em mente), com este “Concerto para Piano nº 5 em Mi bemol maior, Op. 73”, vulgo
‘Imperador’. Infelizmente, a
maturidade que, a espaços, o pianista revela junto a esta inexcedível, ainda
que de acelerador a fundo, Filarmónica de Berlim comandada por Harding – no eloquente
fraseado, em sensíveis gradações e num raro controlo emocional – é contrariada,
a solo, por uma visão da peça de Schumann particularmente pueril e corrompida
pela mais imoderada extroversão, tudo remetendo para a vexante incoerência,
apanágio de espíritos menos equilibrados. [Hoje, às 18h, na sala Suggia da Casa da
Música, no Porto, Yundi toca o Op. 17 de Schumann, a “Tarantella” de Liszt,
tradicionais chineses e a ‘Appassionata’ de Beethoven]
Sem comentários:
Enviar um comentário