Por entre inúmeras acoladas e
distinções – em que se incluem as categorias que encabeçou na “International
Critics Poll” da DownBeat, em 2012, ou, mais recentemente, a inscrição na lista de beneficiários da subvenção “Genius” da MacArthur Foundation –, Vijay Iyer é,
desde janeiro, docente em Harvard. Não se estranha, assim, esta estreia na ECM,
porventura a mais professoral das editoras, cuja lealdade logo se manifesta em “Mutations”,
incoativo registo dos interesses académicos do pianista, sintetizados numa peça
titular para piano, eletrónica e quarteto de cordas – de facto, quando
comparado com as últimas gravações de Iyer para a Act, o opúsculo inicial desta
associação não é nada senão disciplinado. Aqui, de tanto decompor tonalidades
associáveis a Feldman, Cage, Tenney, Glass ou, até, a Milhaud – importante pedagogo
para muitos destes compositores norte-americanos –, Iyer é prismático, mas
suprime qualquer coloração própria, contrariando um implícito caráter de
exceção cultural. Possui, também, improváveis limitações idiomáticas e, a
espaços, um discurso mais incoerente que elíptico contrasta com a eloquente
simplicidade melódica que na sua música se pressente. Entre a exasperação e o
encantamento, é como uma extensa e fascinante confissão que omita o pecado: a
eletrónica é atmosférica, os acabamentos são negligentes, o formalismo
procedimental é praticamente anacrónico, presumíveis extravagâncias rítmicas e
harmónicas são apenas triviais. Entre os dez capítulos de “Mutations” há um
prólogo e um epílogo ao piano – e a sensação que fica é que Iyer está nisto como
um sonâmbulo num passeio, chegando a muitos sítios sem ir realmente a lado nenhum.
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