12 de abril de 2014

“Stand Up, People: Gypsy Pop Songs from Tito’s Yugoslavia 1964-1980” (Asphalt Tango, 2013)



Perdoe-se a sobredose de ciência social, mas, pela sua proximidade, há, em 2014, dois factos dignos de nota nas relações entre Reino Unido e Balcãs: primeiro, enodoado pela assunção de superioridade civilizacional, registe-se o intenso debate público que se seguiu à eliminação, em janeiro, das restrições à imigração de cidadãos provenientes de Estados-membros da União Europeia como a Bulgária ou a Roménia; segundo, marcado por um insaciável apetite por tudo o que exale o odor do exotismo, repare-se no sucesso na tabela britânica de vendas, em fevereiro e março, dos novos discos do sérvio Boris Kovac, dos bósnios Mostar Sevdah Reunion, da búlgara Gergana Dimitrova com o grupo Belonoga ou dos romenos Fanfare Ciocarlia. Dir-se-iam, um e outro, o resultado de comparáveis erros de interpretação: aos que apenas veem os ciganos – porque, no fundo, é disso que se trata – como uma ameaça ao virtuosismo moral parecem contrapor-se aqueles que os observam exclusivamente à luz do arrebatamento sensorial. Nada de novo, portanto. Praticamente inédita, porém, será a perspicácia que presidiu à elaboração desta surpreendente antologia de canções com origem jugoslava que, lembrando a advertência de Danilo Kis, tinha tudo para sair monopolizada pela linguagem das ideologias. Ao invés, os seus organizadores – Philip Knox e Nathaniel Morris (como não poderia deixar de ser, um par de londrinos) –, principalmente através de Esma Redzepova, Muharem Serbezovski ou Saban Bajramovic, propõem o que nunca antes se ouviu desta maneira: a música cigana enquanto símbolo e expressão de cosmopolitismo.

Sem comentários:

Enviar um comentário